Pois é, lá se vai uma semana desde que nos instalamos em Karachi, a maior cidade da República Islâmica do Paquistão.
Muita gente tem nos perguntado como são as coisas por aqui, pedindo notícias mais detalhadas e fotos. Como não sou chegado a ficar colocando coisas em Orkut e Facebook, vamos fazer um tour sobre esses últimos dias por aqui mesmo. Comecemos por alguns flashes rápidos de momentos selecionados:
Para começar, saibam que nossa rotina diária é hotel-usina e usina-hotel. Não podemos sair dessa rota, e todo nosso deslocamento é feito com segurança armada. Estamos alojados na área mais segura da cidade, que é controlada por militares e praticamente não tem casas ou gente circulando - é quase tudo obra e algumas indústrias aqui e ali. As únicas oportunidades em que pudemos sair do hotel foram para jantar fora, em programas agendados pela chefia da AEI Energy. Além do trecho em que fomos trazidos do aeroporto ao hotel, essas foram as únicas oportunidades até agora em que pudemos ver paquistaneses de verdade em seu habitat urbano.
Logo que chegamos apelidamos um dos guardas daqui de Djalmão. Não sabe quem é Djalmão? Se não sabe, é porque nunca ouviu a piada. Eu sei que tenho ela em algum lugar, então vou colocá-la no ar em um dos posts depois que voltar para casa. Por enquanto, tenho evidências objetivas (ou confissões) de que o Djalmão paquistanês pegou Fêbo (novo nome para Fábio) e Marcélio (novo nome para Marcelo). Pelo que parece, eu e Lim(b)o (novo nome para Lino) fomos os únicos que escaparam das garras de Djalma! Os novos nomes surgiram porque o povo daqui não consegue pronunciar os nomes dos meus amigos. Obviamente, todos sabem que meu nome é universal e pode ser facilmente pronunciado em todas as línguas do planeta Terra!
Pausa para mais fotos:
A preocupação principal quanto à segurança dos estrangeiros é devido ao risco de raptos e sequestros de gringos, pois existe sim uma certa ameaça de fanáticos religiosos e talibãs. Estes, pelo que fiquei sabendo, são na verdade civis contratados para trabalhar para bandidos na luta pela posse de plantações de ópio no Afeganistão. Até agora, no entanto, não vimos absolutamente nada perigoso ou que provocasse suspeita, e tudo segue na mais completa normalidade.
O povo é em sua esmagadora maioria muito pobre. Pessoas aqui trabalham o dia inteiro em troca de 50 dólares por mês, sem qualquer condição de saúde, segurança ou higiene. É um cenário às vezes desolador, principalmente quando passamos pela área rica de DHA e vimos as mansões enormes dos milionários paquistaneses. O contraste é absurdo, capaz mesmo de deprimir qualquer pessoa que vem de uma condição de vida mais elevada. Interessante também como o povo pára tudo o que está fazendo para fazer a oração, às vezes mais de uma vez ao dia. Isso acontece na sala de controle da usina direto!
Outra pausa para fotos:
A paisagem aqui é árida e seca, e a temperatura muito semelhante à de Cuiabá. Estamos à beira do mar, então venta bastante. Tem dias em que o sol não sai e o mormaço úmido deixa a gente pregando com somente uma caminhada fora do escritório.
No primeiro dia de trabalho almoçamos na planta, e tivemos que comer com as mãos (a mão direita, para falar a verdade). Todo mundo ficou meio sem jeito, mas agora já estamos tão acostumados que comemos com a mão até no café da manhã. Se você acha que já comeu comida apimentada, venha pra cá então... Tem tanta pimenta que é difícil não ficar com o nariz escorrendo depois de uma refeição. Se brincar tem pimenta até em doce! A melhor dica sobre comida é NÃO começar a comer a não ser que as bebidas tenham chegado à mesa, coisa que eu aprendi num dos primeiros jantares no restaurante do hotel.
O trânsito é uma bagunça generalizada. Os ônibus são o que mais chama a atenção, seja pela decoração exagerada (quanto mais pintado melhor) ou pelo número de gente que viaja no teto sentada ou surfando. Não existe lei por aqui, ninguém obedece sinal direito e a buzina come solta de tudo quanto é lado. Direto tem notícia de gente sendo atropelada nos jornais locais. Ah, e a mão aqui é invertida, como na Inglaterra!
Última pausa para fotos:
Os três turcos que vieram para a usina trabalhar na mesma função que nós são gente boa. Têm ótimo senso de humor e são muito bons no que fazem. A mão-de-obra local tem capacidade e condições de se manter sozinha, mas falta um pouco de experiência aos novatos, algo que esperamos estar transmitindo a contento no dia-a-dia da usina. Já no hotel, quando as coisas ficam mais calmas, dou um jeito de ligar o Mega Drive da Blaze para relaxar um pouco (acabei de zerar Sol-Deace!).
Depois desta introdução básica, creio que o próximo post será dedicado a algumas das experiências que vivenciamos por aqui. Aguardem e confiem!
Texto postado por Edward em 12 de Agosto de 2009