Um curto período de mini-férias fez com que eu assistisse a muitos filmes no começo do mês, numa média que infelizmente foi impossível de ser mantida pelo resto do período. Talvez por overdose ou por baixa qualidade cinematográfica, saí da sessão de cinema de Blade Trinity (David Goyer, 2003) com um mal-estar que se converteu em inflamação da garganta e me deixou imprestável por quase duas semanas. O mais provável é que tenha sido mesmo reflexo do material fraco que permeia o capítulo final da saga do vampiro Blade. Apesar de não ser uma perda total, o resultado insatisfatório do filme quebrou ainda mais a moral de Goyer com muita gente em meio à sua base de fãs.
Assisti ainda a mais dois filmes de terror híbridos com algum outro gênero. Lobo (Mike Nichols, 1994) mistura romance e drama com mais uma versão do mito clássico do lobisomem, abrilhantado com a presença radiante de Michelle Pfeiffer no auge da beleza e com Jack Nicholson como uma espécie de Wolverine em Dias de um Futuro Esquecido. Anjos da Noite - Underworld (Len Wiseman, 2003), película com um hype tão impressionante quanto inexplicável, só é enquadrado como terror por ser uma história de vampiros e lobisomens, já que a ação desenfreada chupada de Matrix é a verdadeira estrela do pastiche morno encabeçado por Kate Beckinsale.
Quanto ao terror O Grito (Takashi Shimizu, 2003), percebi que tenho nadado contra a corrente em meio à maioria das pessoas que conheço e curtem cinema, principalmente a galera com quem converso pela Internet. Todo mundo desceu a lenha sem dó nem piedade na história de fantasmas estrelada por Sarah Michelle 'Buffy' Gellar. De minha parte, achei o filme até razoável, com sustos interessantes e passagens dignas dos melhores contos macabros. Quem apregoa a ladainha de que o diretor abusa de áudio alto quando quer dar sustos, de que a história é mal-explicada, de que ela está recheada de clichês e blá-blá-blá precisa rever os conceitos. Pois cinema é som e imagem em movimento. E não me agrada sobremaneira denegrir um filme simplesmente pelo fato do diretor utilizar os recursos de que dispõe, e que o inspiram, para fazer um filme eficiente.
O Demolidor (Marco Brambilla, 1993) e Fuga de Nova York (John Carpenter, 1981) são duas obras futuristas que no entanto seguem linhas diametralmente opostas. Da realidade asséptica e engraçadinha do primeiro, nada se reflete no aspecto pessimista do segundo. Ambos medianos, só valem mesmo uma conferida pelos astros que trazem no elenco. Pode-se dizer o mesmo de Esfera (Barry Levinson, 1998), que tinha tudo para ser um dos melhores filmes do ano em que foi produzido, mas se estrepa todinho numa história confusa e, ao final, completamente decepcionante.
No final da década de 50, um dos maiores épicos de todos os tempos foi produzido. Este épico é Ben-Hur (William Wyler, 1959), longa de mais de três horas que ainda hoje impressiona pela carga dramática e pelas prodigiosas cenas de ação. Observação pessoal: Charlton Heston, em alguns trechos do filme, lembra bastante um Arnold Schwarzenegger mais magro. Com tema meio parecido, Fúria de Titãs (Desmond Davis, 1981) possui uma mágica que ajuda a sobrepujar os diálogos insossos e a completa falta de carisma do Perseu de meia tigela feito por Harry (quem?) Hamlin. Absoluta festa para os aficcionados por mitologia grega, pode causar risos na platéia mais jovem e acostumada aos efeitos especiais de última geração. Também baseado em mitos, As Brumas de Avalon (Uli Edel, 2001) revela-se uma das melhores produções televisivas já feitas. Sem enfocar as batalhas do rei Arthur e concentrando-se nas mulheres de sua vida, consegue manter um razoável interesse ao longo de três horas de projeção, projetadas originalmente para serem exibidas em quatro capítulos.
Um dos filmes mais surpreendentes dos últimos anos é U-571 - A Batalha do Atlântico (Jonathan Mostow, 2000). Facilmente subestimável, de tema aparentemente árido e de difícil associação com diversão, a história sobre a Segunda Guerra Mundial tendo submarinos como o tema central apresenta conteúdo suficiente para garantir uma excelente sessão regada a suspense, ação e muita adrenalina. Doze Homens e Outro Segredo (Steven Soderbergh, 2004) também tenta entregar os mesmos ingredientes e manter o clima do filme original, só que desta vez sem muito sucesso. Michael Mann consegue fazer melhor em Fogo Contra Fogo (1995), épico policial de longa duração e elenco pesadíssimo (no bom sentido). Robert De Niro e Al Pacino revezam-se em interpretações antagônicas capazes de fazer a tela tremer. Pacino também aparece em Advogado do Diabo (Taylor Hackford, 1997), fábula moderna sobre a natureza do demônio. Pacino é nada mais, nada menos que o próprio, em performance tão irônica quanto perturbadora.
Assim como em Advogado do Diabo, as duas comédias românticas que assisti têm no elenco loiras badaladas de Hollywood. Como Perder um Homem em 10 Dias (Donald Petrie, 2002) é capaz de fazer qualquer um rolar de rir, apesar de demorar um pouco para entrar nos eixos. Já Harry e Sally - Feitos um para o Outro (Rob Reiner, 1989) é um pouco mais sério, dotado de um humor mais sutil. Visão temporal e íntima sobre como amigos podem tornar-se algo mais que amigos, entra fácil em qualquer lista dos dez melhores filmes do gênero. Fácil foi também constatar que o musical Grease - Nos Tempos da Brilhantina (Randal Kleiser, 1978), que assisti pela primeira vez, ainda soa bastante atual. Divertido e leve, bom para arejar a cabeça.
Closer - Perto Demais (2004) foi o segundo filme de Mike Nichols que vi no mês, e que diferença ele representa em relação a Lobo! Abrilhantado por performances excelentes do quarteto que compõe seu elenco, o filme é um exercício dramático que cria uma nova dimensão para tudo o que já foi mostrado sobre os relacionamentos adultos no cinema mainstream. É desde já candidato a um dos melhores do ano.
Instrumentalmente, há que se louvar o trabalho como compositor de John Carpenter em Fuga de Nova York, sem esquecer a trilha clássica de Miklós Rózsa em Ben-Hur. Do restante dos filmes, é difícil eleger uma trilha sonora preferida. Grease, por ser um musical, talvez. Harry e Sally também tem canções ótimas, assim como o recente Como Perder um Homem em 10 Dias.
Texto postado por Kollision em 5/Fevereiro/2005