A cabeça dói o dia inteiro. O brilho das lajes bate na retina como ondas dessa dorzinha irritante, que não vai embora mas também não fica por inteiro. De um travesseiro para outro, esticado em apenas um lado da cama, um grande 13, um grande 14 e um obstáculo intransponível mesclam-se a suor, febre e éter inodoro. Cabelos encharcados, panetone estragado e porcelana de companhia por três vezes durante a madrugada. Pílula depois do almoço, chá de erva-doce e vento na cara porque a chuva não dá uma folga enquanto a pneumonia resolve fazer dois furos além de qualquer conserto. Quatro fusíveis a vinte centavos cada, suco na padaria da esquina e quase uma milha de Kohle de brinde.
Pedido feito na segunda, enquanto a semana passa pontuada por lances descritos no parágrafo anterior. O portão parece estar com dois segundos de retardo, mas o primeiro chega, com alegria. Dois dias depois, mais três, completando um desejo de criança há muito adiado. Chove, chove, e chove mais um pouco. A paleta esquerda está uma droga, não dá para ver direito o que está além do vidro, nem para correr demais. Ainda faltam dois, garantindo o suspense por mais alguns ciclos terrestres.
A espessura ideal do sashimi varia de pessoa para pessoa. Mas comer um filé de peixe da espessura de um nugget soa estranho. Pedir para levar para casa exigiria uma boa fritada de ambos os lados, por perigo do peixe ainda ficar cru. Expectativa sobre o novo frustrada da pior forma possível. O negócio mesmo, nesse caso, volta a ser o tal do bom e barato.
A primeira fase joga-se contra o Gutsman, o Bombman ou o Elecman. Tanto faz, basta ficar atirando de longe e pulando os tiros do inimigo. Nessa primeira aventura ainda não é possível escorregar, mas a musiquinha clássica é uma verdadeira viagem no tempo. É possível até conseguir o Rush especial nessas etapas, aquele que gera a pontezinha energética. Ainda há mais sete etapas para cumprir, mas as duas interrogações no final parecem valer a pena. Estranho como, no passado, a primeira impressão foi tão ruim. Uma vez na pele do caboclinho, o negócio é tão bom que vicia.
Mais uma banda anunciou seu fim, e ouvir suas obras de trás pra frente (não rodando o CD ao contrário, e sim ouvindo os últimos CDs primeiro) pode ser uma experiência reveladora. Interessante é conseguir o primeiro CD depois de todos esses anos e ver que, nele, o vocal predomina sobre o instrumental maluco. Enquanto isso, o mundo da música cada vez mais afunda na falta de originalidade. Ou será que estamos ficando velhos e nossa música está se tornando música de velhos também?
E eu não estou com preguiça. Estou apenas com uma súbita queda de pressão.
Texto postado por Kollision em 13/Janeiro/2005