Mais uma história de lobisomens, onde estranhamente nem a palavra 'werewolf' nem 'wolfman' são pronunciadas sequer uma única vez, Lobo mostra Jack Nicholson metamorfoseando-se no animal que dá título ao filme, numa mistura de terror com drama e romance comandada pelo veterano diretor Mike Nichols.
Nicholson é o editor-chefe de uma grande editora de livros, rebaixado sumariamente pelo patrão (Christopher Plummer) e substituído pelo ambicioso neófito interpretado por James Spader. Certa noite, numa estrada coberta de neve, Nicholson atropela um lobo e acaba sendo mordido pelo animal. Logo ele começa a perceber que seus sentidos estão super aguçados, ao mesmo tempo em que também passa a sofrer lapsos de memória decorrentes de súbitos ataques de sonambulismo. Acreditando que pode estar sofrendo de algum distúrbio nervoso, as circunstâncias acabam conduzindo-o à bela filha do chefe (Michelle Pfeiffer), a quem ele recorre quando necessita de ajuda.
Em sua essência, Lobo talvez pretendesse ser um filme de horror. Porém, um horror que se apóia na fantasia e, raramente, cria genuína sensação de suspense. A história procura enfatizar o deslumbramento do editor ao descobrir seus novos dons, enquanto a lenta metamorfose licantrópica sucede-se noite após noite. A subtrama editorial envolvendo seu ardiloso inimigo James Spader é só um pretexto usado do início ao fim do filme para justificar o envolvimento emocional e um inevitável romance entre Nicholson e Pfeiffer. Hipnotizante e sedutora, a atriz aparece aqui no auge da sua beleza, e está visivelmente deslocada quando entra em cena. Felizmente, sua personagem ganha terreno e prova que ela é um dos motivos que fazem o filme valer a pena.
Relevando-se alguns lances da história, como o fato do motorista do carro sair no meio da noite para verificar se um animal atropelado está vivo, Lobo revela-se um romance algo gótico, com pitadas de um horror que mostra-se um pouco estéril, principalmente quando as pessoas amaldiçoadas com a metamorfose agem em ambiente urbano. A cena na delegacia é um exemplo disso. A abordagem adotada pelos roteiristas pode não agradar aos fãs hardcore de filmes de lobisomens, mas a história tem material (e elenco) suficiente para prender a atenção ao longo de toda a projeção. A metamorfose de Nicholson em lobo tem uma maquiagem um pouco inspirada no clássico O Lobisomem, de 1941. Sob a responsabilidade do renomado Rick Baker, as feições lupinas de Jack Nicholson até que convencem. Extrapolando um pouco as possibilidades, dir-se-ia na época que ele teria sido um Wolverine perfeito (personagem hoje imortalizado pelo australiano Hugh Jackman), caso sua idade permitisse.
Infelizmente, a Columbia não disponibilizou no DVD nenhum extra.
Texto postado por Kollision em 5/Janeiro/2005