Engana-se quem espera, ao dar uma olhada na capa do DVD ou ler a sinopse deste filme, encontrar uma comédia de costumes engraçadinha estrelada por rostinhos bonitos. O primeiro indício de que isso não é verdade é a presença no elenco de Gary Oldman, um ator que indubitavelmente merece a alcunha de camaleão. O segundo é que, passadas as gracinhas do início da história, que em nenhum momento chegam a ser rasgadamente engraçadas, o filme se converte num drama delicado sobre preconceito, aceitação e amor incondicional, e a presença dos rostinhos bonitos sucumbe à realidade de uma situação rara e inesperada.
Carol (Kate Beckinsale) e Steven (Matthew McConaughey) vivem uma relação harmoniosa e estão prestes a se casar. Só que seus planos sofrem um adiantamento súbito quando ela lhe revela que está grávida, o que não seria uma preocupação muito grande para Steven, não fosse o fato dele ser o único homem normal numa grande família de anões. Seu irmão gêmeo e de pequena estatura Rolfe (Gary Oldman) acaba de chegar à cidade acompanhado de um amigo anão francês (Peter Dinklage) e de uma perua desgarrada (Patricia Arquette). Graças às mazelas do destino, Rolfe acaba batendo na porta de Steven e surpreendendo Carol com a inusitada verdade a respeito da natureza sempre misteriosa do irmão. E o drama está armado em torno do futuro nada convencional que a criança terá.
Procurar por Gary Oldman dentro da história é uma tarefa não muito fácil, até o momento em que se percebe que ele está na pele no anão Rolfe, em mais um de seus memoráveis desempenhos no cinema. Louváveis são os truques de cena e os efeitos utilizados para obter a sensação de diminuição da estatura do ator, que contracena com vários atores anões na vida real e faz um contraponto quase bizarro no relacionamento com o irmão feito por Matthew McConaughey. Rolfe funciona como um tipo de concentrador da idéia comum associada às pessoas com tal disfunção genética, dos conceitos sociais (fica-se sabendo que as palavras midget e dwarf têm, em inglês, significados completamente distintos – sem correspondentes diretos em português além do termo "anão") até o comportamento íntimo e familiar dos pequeninos, que em nada se diferencia de qualquer família de estatura normal. Este aspecto do filme é bem-feito e rende uma verdadeira imersão para quem jamais teve contato com essas pessoas.
Por outro lado, a história carece de uma identificação, ou caracterização mais bem feita, para a figura de Matthew McConaughey. Do jeito que está, e com as poucas deixas existentes, a opinião final que fica acerca de seu personagem é que ele não passa de um crápula aproveitador que foi obrigado a se adaptar a algo inesperado, e assim falha miseravelmente. Kate Beckinsale, como sempre, está linda em cena e até demonstra lampejos de uma atuação inspirada, que culmina num desfecho tão adequado quanto abrupto. A presença do anão estourado feito por Peter Dinklage não encontra muita justificativa na história, mas garante o alívio cômico necessário até que a platéia tenha se acostumado com a intenção do roteiro, que é claramente conduzi-la em meio a uma improvável parábola sobre o amor incondicional e a conciliação de diferenças.
O filme termina não sendo tão poético quanto promete, nem tão engraçado como marginalmente divulgado, mas paga-se pelas atuações do elenco e, particularmente, pela cena do almoço entre famílias.
O único extra digno de menção na magra seção de material adicional do DVD é o trailer de cinema do filme.
Visto em DVD em 25-DEZ-2006, Segunda-feira - Texto postado por Kollision em 29-DEZ-2006