Quando se fala em comédias dos anos 70, não dá para deixar de mencionar este filme, um dos maiores sucessos de público nesta década e, de quebra, também um dos filmes que mantiveram o nome do então galã Burt Reynolds em alta por algum tempo. Graças a isso, Agarra-me Se Puderes gerou duas continuações e converteu-se num pequeno clássico da Sessão da Tarde. Vendo o filme trinta anos mais tarde, não dá para negar que ele envelheceu um bocado, e volta a deixar no ar a mesma pergunta que se faz em relação a filmes de sucesso que não merecem sua reputação: o que teria levado tanta gente a consagrar um trabalho tão fraco?
Bandit (Burt Reynolds) é um caminhoneiro famoso em seu meio. Procurado por uma dupla de caipiras apostadores, ele aceita o desafio de atravessar os Estados Unidos até o Texas para buscar um carregamento de cerveja proibida e retornar à Geórgia em apenas 28 horas. Para ajudá-lo na tarefa, ele convoca o chapa de longa data Cledus 'Snowman' (Jerry Reed). Tudo vai muito bem até que Bandit encontra pelo caminho a noiva em fuga Carrie 'Frog' (Sally Field), que traz na cola o xerife Buford T. Justice (Jackie Gleason), mordido pelo fato da moça ter deixado seu filho bocoió (Mike Henry) no altar. Não é preciso nenhuma bola de cristal para saber que nascem aí tanto um romance de estrada quanto uma rivalidade homérica entre o fugitivo Bandit e o xerife Buford, a quem todos se referem como o "Smokey" do título original do filme. Em linhas gerais trata-se daquele que, na estrada, vive sempre comendo poeira.
O roteiro do filme dá a Bandit o ar bonachão e risonho (aquela risada suspeita que ele solta de vez em quando é o cúmulo da pagação de mico) esperado de um herói despreocupado, e passa por cima de muita coisa para levar adiante sua escapada ilegal através das fronteiras estaduais. Tudo é filmado sem muita inspiração pelo diretor Hal Needham, que faz tudo no piloto automático e se apóia exclusivamente na capacidade de seus atores para fazer as situações funcionarem. O que, com certeza, deve ter sido a principal causa do sucesso do filme na época de seu lançamento. Hoje, infelizmente, é preciso reconhecer que o trabalho perdeu a graça.
Dá para apontar alguns sintomas que justificam tal constatação. Um deles é o modo como a história é conduzida, que deixa Bandit sempre em vantagem e em nenhum momento é capaz de colocá-lo em perigo ou em maus lençóis em relação à perseguição da polícia. O cara só vive rindo e acelerando seu carrão, o que, depois de algum tempo, fica tedioso. Como é possível manter a emoção com as aventuras de um herói que está sempre por cima? Sally Field, seu interesse romântico, fala pelos cotovelos e acaba sendo extremamente pentelha. Dá para ver, também, que seu semblante bochechudo sempre foi o mesmo ao longo de toda a sua carreira. O único momento em que parece que algo mais digno vai acontecer é quando o roteiro ensaia alguma dificuldade na jornada do trio em fuga, na cena em que Jerry Reed é espancado na lanchonete de beira de estrada. Infelizmente, logo depois volta o marasmo e as situações sem muita graça.
Apesar da escassez de risadas, Jackie Gleason é o melhor do elenco, criando um xerife para ficar na história. Quem assina as canções-tema do personagem de Burt Reynolds é ninguém menos que seu chapa na tela Jerry Reed. E, para quem talvez tenha despertado um pouco quando aquela caminhoneira com silhueta de Helen Slater apareceu por alguns segundos na parte final do filme, saibam que o nome da moça é Laura Lizer Sommers. Só para constar.
O único extra presente no DVD é o trailer de cinema do filme.
Texto postado por Kollision em 31/Julho/2006