Visto em DVD em 26-AGO-2008, Sexta-feira
Brilhante é pouco para definir este filme, um petardo praticamente inclassificável que não se pauta por nenhuma regra estabelecida dentro das convenções do que a maioria das pessoas entende por cinema. Não se trata de puro exploitation, a vertente que por motivos óbvios mais poderia ser associada à película. No contexto geral, trata-se de um drama denso que discorre sem qualquer amarra sobre as conseqüências nefastas de um jugo religioso opressivo, cuja ambientação dentro de uma cultura tão distinta lhe dá um sabor extremamente original, raro, imprevisível. Não são poucos os momentos de surpresa e até choque, como o que se passa logo durante os créditos de abertura: um búfalo é morto a machadadas e estripado diante de um grupo de crianças estupefatas. As crianças, por falar nisso, são um componente crucial da trama, sendo retratadas e utilizadas de forma brilhante. O fato de que há cenas de sexo e violência em profusão (estejam avisados, o filme não é para crianças) torna Silip ainda mais impressionante em sua envergadura temática.
É preciso mencionar o apurado senso cinematográfico de Elwood Perez, que dirige seu filme com elegância, aproveita bem as paisagens arenosas e imprime uma cadência feita sob medida para quem aprecia o cinema sério mas também não deixa passar um exploitation ousado. Para uma obra de baixo orçamento, o trabalho de edição é excelente. Como se isso não bastasse, as duas protagonistas são belíssimas, estonteantes mesmo (uma delas foi Miss Filipinas no ano anterior ao lançamento do filme). Perez não se faz de rogado, imortalizando-as como vieram ao mundo em tomadas inesquecíveis.
Há quem compare Silip a El Topo, marco do cinema underground dirigido por Alejandro Jodorowski em 1970. A comparação é pertinente, excetuando a verve surrealista do segundo e a ênfase no erotismo presente no trabalho filipino. Pelo que pude apurar, a palavra silip corresponde a "espiar" (peep, em inglês). Um nome simples para um filme que vai muito além disso e merece ser visto por todos os cinéfilos de mente aberta.
A Mondo Macabro deu uma caprichada legal no filme, que vem numa edição dupla de região ALL. O primeiro DVD traz o longa com áudio original e legendas em inglês e com uma dublagem separada em inglês. O segundo disco inclui um texto esclarecedor de Pete Tombs sobre o cinema underground filipino, biografias de Elwood Perez, Maria Isabel Lopez e Mark Joseph, entrevistas de 8 a 18 minutos com o diretor, Maria Isabel Lopes e o diretor de arte Alfredo Santos e o tradicional trailer com os lançamentos da distribuidora.