Cinema

Mentiras Sinceras

Mentiras Sinceras
Título original: Separate Lies
Ano: 2005
País: Inglaterra
Duração: 85 min.
Gênero: Drama
Diretor: Julian Fellowes
Trilha Sonora: Stanislas Syrewicz
Elenco: Tom Wilkinson, Emily Watson, Rupert Everett, Linda Bassett, John Neville, David Harewood, Hermione Norris, John Warnaby, Richenda Carey, Christine Lohr, Alice O'Connell
Avaliação: 7

Trabalho de estréia do veterano ator e oscarizado escritor Julian Fellowes, cujo maior feito foi levar a estatueta de roteiro original por Assassinato em Gosford Park (Robert Altman, 2001). Apoiado por uma trinca de comprovados talentos liderando o elenco, Fellowes traça uma crônica que envereda pela polêmica mas jamais abandona a conhecida fleuma da sociedade britânica. É uma história contida, bem conduzida e interpretada, apesar de curtinha e algo carente de ousadia.

O importante advogado de uma firma londrina James Manning (Tom Wilkinson) sempre teve em mente que sua vida interiorana ao lado da esposa Anne (Emily Watson) fosse perfeita. Até o dia em que um acidente envolvendo a empregada de sua casa (Linda Bassett) e um vizinho (Rupert Everett) vira sua rotina de pernas para o ar. Gradualmente ele descobre vários fatos e verdades sobre cada um dos que estão à sua volta. Há a traição de sua esposa, que tornou-se amante do vizinho másculo e bonitão, mas o desenrolar dos acontecimentos leva a crer que isso talvez nem seja a revelação mais grave de todas.

Há um misto de dilemas que se entrelaçam dentro da história de Mentiras Sinceras, um filme que tece um retrato deveras benevolente da traição feminina dentro de um casamento, principalmente diante dos valores conservadores de uma sociedade como a britânica. Acredito que nesse ponto o trabalho de Fellowes seja um tanto deficiente. Para o seu bem, as demais nuances do roteiro meio que desviam o foco da controvérsia para sentimentos mais nobres como a amizade, a compreensão, o perdão e o amor, não necessariamente nessa ordem. A manutenção das aparências na vida social, a união em momentos de desespero, o arrependimento diante do que acreditamos ser certo e errado, a impotência diante de uma situação da qual aparentemente não há saída, tudo isso entra no turbilhão de realidade que atinge em cheio o personagem de Tom Wilkinson.

Exatamente por estar no epicentro de uma pequena tragédia familiar, Wilkinson se converte com poucos minutos de projeção na razão do porquê vale a pena assistir ao filme. O ator incorpora com maestria a estupefação de um homem cuja redoma de vidro acaba de ser estraçalhada, e extrai o máximo de um personagem cuja concepção, sinceramente, não me agrada muito. Há, no entanto, algo que o diferencia de sua esposa e do amante dela. Seria a maturidade encontrando vazão diante de uma situação insustentável? A inaptidão em lidar com tais dificuldades de forma mais ativa? Seria a ameaça da solidão e do ocaso profissional uma força motora em sua vida? Ou estaríamos (os espectadores) diante de uma amostra não muito explícita do amor em sua forma mais pura? E as mentiras, o que fazer quando elas são inevitáveis dentro de um relacionamento, seja ele amoroso ou não?

Se existe um mérito neste filme, ele reside em colocar à prova as premissas pessoais de cada um, apesar de fazê-lo dentro de um drama mundano e difícil de engolir em certas passagens. A execução é econômica mas, no geral, a obra de Fellowes definitivamente cai na categoria dos filmes que "fazem pensar".

Texto postado por Kollision em 30/Maio/2006