O nome extremamente sugestivo de mais esta película maldita vinda da terra de Chaves e Chapolin esconde um trabalho de nunsploitation que, infelizmente, não corresponde à expectativa gerada. Ainda assim tido como um dos mais proeminentes representantes de um dos sub-gêneros mais obscuros do cinema de horror, Satánico Pandemonium não chega a pegar muito pesado na ousadia, e serve pelo menos como uma razoável porta de entrada para quem não conhece o nunsploitation, vertente que transforma freiras em servas do demônio e veículos pra todo o tipo de maldição e perversão associadas ao macabro.
Não há muito de história no filme, cuja trama se confunde com a essência do sub-gênero: freira angelical e bondosa (Cecilia Pezet) é tentada pelo capeta em pessoa (Enrique Rocha), que lhe aparece na figura de um homem charmoso e sedutor. Depois de resistir às primeiras investidas do lado negro, ela se entrega de corpo e alma à auto-flagelação, aos pecados da carne, à disseminação da maldade e à psicopatia assassina. Suas atitudes logo contaminam várias de suas colegas freiras e levam o convento ao caos completo, com ela ascendendo à posição de madre superiora graças à influência de seu novo mestre.
"De prometida de Cristo a escrava de Satã" – tal é a chamada principal de divulgação do filme, estampada na capa do DVD. O esforço de se conceber uma história bizarra sobre a corrupção de uma freira é louvável, mas é uma pena que o diretor não tenha tido um senso de ritmo mais apurado. A fotografia do filme é, por vezes, simplesmente belíssima, mas certas cenas se arrastam por muito mais tempo do que deveriam, comprometendo a narrativa com zonas mortas só interrompidas quando a personagem principal resolve tirar a roupa. E isso ela faz em profusão, na única característica da película onde ela realmente atinge o que promete de início. Com nenhuma outra cena de nudez de nenhuma outra atriz, Cecilia Pezet se torna o centro das atenções da história e, como a moça não chega a ser nenhum estouro (apesar de não ser feia), lá pelo terço final do filme o negócio já entrou em banho-maria.
É possível que católicos e pessoas religiosas em geral se sintam ofendidos com o tema do longa, que zomba da igreja e de seus valores com inevitável empáfia. Afinal, de que outra forma o nunsploitation poderia existir? E não é sabido que desde tempos imemoriais a lascívia e a obscenidade correm soltas nos corredores empedrados de mosteiros e conventos? Neste sentido, o desfecho do filme é uma nítida concessão à censura da época, e acaba por tirar qualquer impacto que o roteiro tencionava obter. Algumas seqüências com sangue, como aquela em que a freira endemoniada tenta estuprar um garoto e termina por matá-lo, praticamente valem a sessão. Mas não adianta esperar por nada bombástico, pois tudo fica nitidamente numa linha abaixo da média.
O disco vem com áudio em espanhol e legendas em inglês. Há uma entrevista de 15 minutos com Adolfo Solares, roteirista do filme e filho do diretor, um especial com o diretor Nigel Wingrove discorrendo sobre os filmes de nunsploitation, um artigo em texto sobre o sub-gênero, biografia do diretor, duas galerias de fotos e um compêndio rápido divulgando outros DVDs da Mondo Macabro.
Visto em DVD em 21-DEZ-2006, Quinta-feira - Texto postado por Kollision em 27-DEZ-2006