Visto em DVD em 21-JUL-2007, Sábado
Exploitation épico, cuja sinopse no DVD chega a taxá-lo como o Cidadão Kane de Jesus Franco. Sadomania é, sim, um pastiche despudorado coalhado de nudez feminina, torturas e sadismo, mas com uma história absurda, diálogos ridículos e níveis de interpretação claudicantes. Na "história" deste espetáculo do cinema underground, um casal em viagem de lua-de-mel é separado pelo rapto e encarceramento da noiva numa prisão feminina onde todas as mulheres fazem trabalho escravo seminuas. A diretora do lugar (Ajita Wilson) gerencia a saída das detentas para a satisfação de um governador local broxa (Antonio Mayans) e para um prostíbulo localizado nas redondezas, além de promover ela própria matanças e combates entre as prisioneiras. Mais tarde, o noivo expulso retorna para tentar libertar sua esposa.
Há quem tente enxergar algum significado dentro deste tipo de filme, mas o objetivo do diretor é para mim muito claro: presentear a platéia com um amálgama de perversões escapistas de cunho fetichista. Afinal, o que dizer de um filme que mostra mulheres nuas enjauladas, sexo lésbico, mulheres nuas duelando ao pôr-do-sol, mulheres nuas sendo comidas por crocodilos, mulheres nuas tendo os seios espetados por agulhas, mulheres nuas acorrentadas e violentadas, mulheres trabalhando em pedreiras com os peitos de fora em pleno meio-dia, mulheres nuas sendo vítimas de tiro ao alvo, mulheres nuas estupradas por um cão pastor... E o diretor, no papel do dono boiola do bordel, sendo coberto por um negão? Que não é outro senão a malvada Ajita Wilson, na verdade um ator que fez operação de troca de sexo nos anos 70 e depois seguiu carreira de sucesso em filmes pornográficos?
Em meio a todo o suposto baixo nível que o parágrafo acima evoca, Sadomania é permeado por um humor não intencional (como na cena do ataque dos crocodilos de plástico), e em vários momentos apresenta ótima cinematografia e um bom trabalho de câmera por parte do diretor, tudo obviamente engolido pela ambientação trash do todo e pela abundante nudez feminina – com certeza a característica mais marcante do longa. Algumas atrizes passam TODO O FILME com os seios de fora, sem vestir uma blusa sequer! A propaganda de divulgação faz alusão à presença da playmate Ursula Buchfellner (a primeira loira a ir de barco para o bordel), mas o verdadeiro colírio da história é Gina Janssen, que faz a esposa do político broxa. A morena Ajita Wilson, por sua vez, representa a força e o ponto de coesão dentro de toda a bagunça, e por nenhum momento passa qualquer impressão de já ter sido um homem.
O DVD da Continental vem com uma dublagem duvidosa em inglês, que lá pelas tantas passa para o espanhol original sem motivo aparente. Os únicos extras do disco são uma biografia curta de Jesus Franco e uma galeria de pôsteres bem rabugenta.