Muita gente achou que o Justiceiro merecia um filme melhor que a produção de baixo orçamento de 1989 dirigida por Mark Goldblatt. A verdade é que não é muito justo denegrir esta produção, que podia não ser lá uma obra-prima mas tinha suas qualidades como adaptação. O que mais os fãs reclamaram foi o fato do personagem não ter, naquela versão, a famosa caveira no peito, sua marca registrada. Coisa que foi devidamente corrigida no filme de 2004, que marca a estréia do escritor Jonathan Hensleigh no comando de um longa-metragem e adapta a trágica história do Justiceiro para os nossos dias.
Depois de uma carreira de sucesso no exército e no FBI, o condecorado agente Frank Castle (Thomas Jane) finalmente abandona suas atividades de risco para conviver em tempo integral com sua família. Infelizmente, sua última missão acaba por despertar a fúria de um mafioso da Flórida, o poderoso Howard Saint (John Travolta). Para vingar a morte do filho pelas mãos de Castle, Saint empreende um massacre destinado a eliminar não somente o ex-policial, mas também toda a sua família. Sobrevivendo por pouco, Frank retorna à Flórida decidido a investigar tudo sobre Saint, vindo mais tarde a fazer justiça com as próprias mãos em resposta à ineficiência da investigação policial de seus ex-colegas.
Para quem conhece a violenta HQ na qual O Justiceiro se inspira, é gratificante perceber que a equipe técnica do filme manteve um respeito mínimo pela origem do personagem, até mesmo tentanto genuinamente atribuir-lhe um pouco mais de tridimensionalidade. A história deixa claro que Frank Castle só decide buscar justiça com as próprias mãos após perceber que nada será feito se o caso ficar nas mãos das autoridades. Sua motivação em nenhum momento soa gratuita, e o roteiro busca nas histórias escritas por Garth Ennis a inspiração, o humor negro e os personagens coadjuvantes mais adequados para relatar o intrincado e explosivo acerto de contas de Castle. É de um mesmo arco recente da revista, por exemplo, que os vizinhos do Justiceiro e o grandalhão Russo saíram.
Thomas Jane demonstra ser um intérprete perfeito para o truculento Frank Castle, um homem marcado para sempre pela tragédia. Apesar de seu peso de astro fazer com que ele ganhe mais espaço no pôster que o Justiceiro em si, John Travolta cumpre o dever de casa sem aparecer demais. A carga de violência do filme é razoável e espelha corretamente a atmosfera da HQ, sobrepondo-se a alguns deslizes do roteiro que ameaçam destruir a aura de intocável do anti-herói. Uma característica que o filme possui, e que transparece facilmente ao cinéfilo mais atento, é o aspecto de western urbano que Jonathan Hensleigh se esforça para estabelecer. Fã declarado de Sergio Leone, Clint Eastwood e Don Siegel, Hensleigh imprime sua admiração até mesmo na trilha sonora, composta pelo italiano Carlo Siliotto. A música não é uma maravilha do outro mundo, mas substitui com inegável sabedoria os tão irritantes pastiches de bandas de nü-metal que infestam os filmes recentes do tipo. A fotografia do experiente Conrad Hall (Estrada para Perdição) é outro trunfo do qual o diretor dispõe, além de um elenco feminino de tirar o fôlego, que inclui Rebecca Romijn como a vizinha preocupada e Laura Harring como a estonteante esposa de John Travolta.
O DVD lançado pela Columbia traz dois making-ofs de meia hora cada, detalhando a produção do filme e o trabalho dos dublês, duas cenas excluídas e o videoclipe de Step Up do Drowning Pool.
Texto postado por Kollision em 31/Julho/2005