Energia Pura é um filme coadjuvante que se sobressai da mesma forma como o fazem alguns nomes de seu elenco, também coadjuvantes profissionais. Parte da platéia não dá a mínima, já outros curtem a história exatamente pela presença destes atores, e também pelo fato dela ser bem contada e correr por fora em meio à enxurrada de filmes suportados por intensas campanhas de marketing.
Certo dia, o xerife de uma pequena cidade rural americana (Lance Henriksen) descobre na casa de um casal de idosos recém-falecidos o jovem Jeremy 'Powder' Reed (Sean Patrick Flanery), um rapaz albino que, aparentemente, sempre viveu isolado do mundo devido à proteção constante de seus avós. De aparência estranha, ele é o motivo de muitas histórias de monstro contadas pelos vizinhos. O xerife chama a psicóloga Jessica (Mary Steenburgen) para ajudar, e ela se surpreende ao descobrir que o rapaz não tem nada de monstro, além de ser super inteligente e possuir uma memória fotográfica. Levado para a cidade e matriculado numa escola, Jeremy atrai a atenção de todos com seu tipo estranho e com os fenômenos bizarros que sempre ocorrem quando ele está por perto, envolvendo eletricidade ou raios.
Escrito e dirigido por Victor Salva, que seria incensado por uma parte dos fãs de terror e espinafrado pela outra parte no futuro Olhos Famintos, Energia Pura possui o toque certeiro que costuma fazer esse tipo de filme funcionar: ele prende o espectador a partir do momento em que começa. O roteiro não desvia muito do esperado e do clichê ao relatar o processo de socialização do rapaz, mas tudo é feito de forma certinha, com muita competência. Além dos eternos e já mencionados coadjuvantes Henriksen e Steenburgen, Jeff Goldblum (A Mosca) aparece como um professor fascinado pela inteligência de Jeremy. Dos três, quem está melhor em cena é Lance Henriksen, que tem várias passagens tocantes e entrega uma performance bastante diferente da qual está habituado a fazer. Mary Steenburgen está meio deslocada como a tutora que quer o melhor para seu protegido, mas parece ser incapaz de lhe dar um simples abraço. O protagonista Sean Patrick Flanery faz muito bem seu papel, auxiliado pelo excelente trabalho da equipe de maquiagem.
Odiado pelos outros jovens e sempre complacente com a aversão alheia, Jeremy é uma figura que parece também conter um simbolismo característico. Dotado de dons maravilhosos, ele é o pivô de um drama que envolve o preconceito, a aceitação, a amizade e uma certa religiosidade. Este último tema é arranhado várias vezes ao longo do filme, assim como outras pontinhas que Salva faz questão de desamarrar, como o fato de que Jeremy possa mesmo ter sido o responsável pela morte dos avós, ou uma insinuação de homossexualidade que é abafada da forma mais rude possível. Tudo é costurado com classe, valorizado por interpretações corretas e pontuado por uma trilha um pouco emotiva demais assinada pelo mago Jerry Goldsmith.
Como de praxe em outros lançamentos, a Buena Vista não fornece nenhuma apresentação especial na edição em DVD do filme.
Texto postado por Kollision em 2/Janeiro/2005