O que pode resultar da combinação de uma peça teatral de sucesso, um diretor experiente em praticamente todas as áreas da produção televisiva (inclusive a atuação) e um elenco talentoso, todos reunidos na elaboração de um longa-metragem para o cinema? "Uma grande porcaria", alguns poderiam dizer. "Outra novela condensada em uma hora e meia de filme", diriam outros. E o preconceito maior poderia ser proferido por alguém que pudesse reclamar da obra ter sido co-produzida pela Globo Filmes. Pois eu digo que a verdade está bem longe disso. E isso vem de alguém que sempre teve um certo preconceito contra produções nacionais, notadamente durante a década de 90.
As quatro protagonistas são irmãs que não se vêem há algum tempo, e se reúnem para dividir a herança deixada pela mãe recém-falecida: um antigo apartamento em Copacabana. O processo revela-se mais complicado do que parece, quando as personalidades díspares e intricadas de cada uma delas vêm à tona e começam a criar conflitos e mais conflitos. Uma é casada, a outra é libertina. A terceira abandonou tudo para morar na Europa com um novo marido, e a mais nova possui tendências sexuais nada convencionais.
Por mais que a linguagem teatral ou televisiva seja evidente em algumas passagens, é um deleite ver estas quatro atrizes de talento em cena. As picuinhas entre as irmãs surgem e desvanecem, para mais tarde dar lugar a um conflito maior desencadeado pela irmã mais conservadora de todas, a esposa-modelo Glória Pires. Os melhores momentos ocorrem quando ela decide comprometer a venda do apartamento, colocando as irmãs em desespero e, de tabela, forçando a resolução dos conflitos pessoais de cada uma no clímax da história.
É difícil eleger a melhor em cena, mesmo que a estrela da experiente Glória Pires pareça brilhar mais que as outras. Todas têm seus momentos e contribuem de forma esplêndida para o ritmo solto, enaltecedor e nostálgico do filme. Alguns vícios televisivos aparecem em cenas internas e tomadas como as da praia, que no entanto não chegam a comprometer a estrutura do filme em si. Remando contra a maré de realizações algo insossas que apareciam no cinema brasileiro na época, A Partilha surgiu em 2001 para ajudar a alavancar as produções nacionais e provar ao grande público que nosso cinema pode ser genuinamente divertido, sem recorrer à chanchada nem soar piegas. Grande mérito de Miguel Falabella, o autor da peça original, e do diretor Daniel Filho.
O making-of de 20 minutos e um especial curto de 6 minutos na seção de extras refletem o bom clima do filme. Há ainda 2 trailers, cenas de ensaios, erros de gravação e biografias do diretor e suas quatro protagonistas.
Texto postado por Kollision em 8/Novembro/2004