Cinema

As Brumas de Avalon

As Brumas de Avalon
Título original: The Mists of Avalon
Ano: 2001
País: Alemanha, Estados Unidos, República Tcheca
Duração: 183 min.
Gênero: Ação/Aventura
Diretor: Uli Edel
Trilha Sonora: Lee Holdridge
Elenco: Anjelica Huston, Julianna Margulies, Joan Allen, Samantha Mathis, Caroline Goodall, Edward Atterton, Michael Vartan, Michael Byrne, Hans Matheson, Tamsin Egerton, Mark Lewis Jones, Clive Russell, Elias Zerael Bauer, David Calder, John Comer, Klára Issová, Noah Huntley, Ian Duncan, Christopher Fulford, Justin Muller, Freddie Highmore, Hugh Ross, Biddy Hodson, Edward Jewesbury, Honza Klima, Philip Lenkowsky
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 8

A lenda do Rei Arthur e dos cavaleiros da távola redonda encontra em As Brumas de Avalon, telefilme com três horas de duração produzido pelo canal TNT e projetado para ser exibido em quatro partes, um enfoque estritamente diferente daquele já mostrado em películas clássicas como Excalibur (John Boorman, 1981). Este enfoque, baseado no best-seller homônimo de Marion Zimmer Bradley, consiste na visão e no controle político estabelecido pela linhagem de mulheres comandada pela etérea Dama do Lago das lendas, que aqui toma forma física e manipula todos ao seu redor para tentar preservar a então definhante religião praticada pelas sacerdotisas de sua família.

A tal Dama do Lago é Viviane (Anjelica Huston), guardiã e protetora da ilha de Avalon, reduto sagrado da antiga religião, que está sendo então sobrepujada pelo cristianismo e pela onda de invasões dos bárbaros saxões às terras da Bretanha. Temendo que todo o reino se esfacele ante a invasão inimiga, Viviane e seu aliado Merlin controlam secretamente sua irmã Igraine (Caroline Goodall) para que esta gere um filho do então rei Uther Pendragon. A criança é Arthur (Edward Atterton), o regente que deverá unir todos os povos sob uma única bandeira, sejam eles cristãos ou adeptos da mística religião de Avalon, mantendo assim acesa a chama que sustenta a ilha encantada. As manipulações ardilosas de Viviane acabam por ter conseqüências desastrosas no futuro próximo, uma vez que Morgana (Julianna Margulies), meia-irmã de Arthur e eventual sucessora da sacerdotisa, começa a contestar suas atitudes e decide se distanciar da teia de intrigas e manipulações políticas traçada por sua mentora. Ambas, no entanto, estão ainda à mercê da ambiciosa Morgause (Joan Allen), irmã de Viviane e também adepta da magia típica de Avalon.

Nada de longos e sangrentos combates de capa e espada esperam os mais afoitos por violência em As Brumas de Avalon. A produção é excelente para os padrões televisivos, mas não dá ênfase nas batalhas por dois motivos. Um deles é o custo, claro, o outro é o texto do livro original, que transforma as mulheres no epicentro de uma era que representa várias coisas, mas principalmente a lenta morte da crença na magia. A família da Dama do Lago é a última remanescente de sua linhagem, e o desejo de manter esta linhagem viva e pura é um dos alicerces da tragédia que se abate sobre Camelot, conseqüência também não desejada de atitudes da própria Morgana, como comprova a origem de uma certa paixão entre Lancelot (Michael Vartan) e Guinevere (Samantha Mathis), a prometida de Arthur. Por mais feminista que seja a história, é no mínimo interessante acompanhar o desenlace de toda a nefasta preparação de Viviane, e como todos os homens nada são além de meros peões num tabuleiro regado a magia, sexo e ambição. Nem mesmo Merlin, o verdadeiro 'mestre dos magos', por assim dizer, chega a ter uma relevância mais significativa nos eventos mostrados.

As interpretações são em sua maioria corretas, e todos os personagens cujos nomes é possível memorizar têm tempo de cena suficiente para demonstrarem isso. O filme ajuda a desconstruir a idéia pré-concebida e arraigada por várias mídias de que Morgana era uma feiticeira má, rótulo que aos poucos vai se revelando mais adequado à sua tia Morgause. As implicações de ordem religiosa ganham força no final, com uma inoportuna analogia física de Arthur à figura de Jesus Cristo e uma metáfora apaziguadora em seu desfecho. Nem sempre sendo fiel ao livro de Marion Zimmer Bradley, o principal diferencial do filme é oferecer uma visão distinta das fascinantes lendas que cercam o mito/personagem histórico do rei Arthur.

A seção de extras contém 7 minutos de cenas excluídas e uma galeria de fotos de todos os personagens da trama.

Texto postado por Kollision em 25/Janeiro/2005