Cinema

Melinda e Melinda

Melinda and Melinda
Título original: Melinda and Melinda
Ano: 2004
País: Estados Unidos
Duração: 100 min.
Gênero: Comédia
Diretor: Woody Allen (Ponto Final, Scoop - O Grande Furo, O Sonho de Cassandra)
Trilha Sonora: Duke Ellington, Erroll Garner, Dick Hyman
Elenco: Radha Mitchell, Will Ferrell, Chloë Sevigny, Amanda Peet, Jonny Lee Miller, Chiwetel Ejiofor, Brooke Smith, Wallace Shawn, Neil Pepe, Stephanie Roth Haberle, Larry Pine, David Aaron Baker, Andy Borowitz, Shalom Harlow, Arija Bareikis, Matt Servitto, Geoffrey Nauffts, Vinessa Shaw, Alyssa Pridham
Avaliação: 7

Depois de sua fase áurea (em que ele atuava com mais freqüência em seus próprios filmes) e de alguns escândalos aqui e ali na vida pessoal, Woody Allen parece ter sido alçado (ou rebaixado, depende do ponto de vista) à categoria de diretores cultuados cujos filmes são bastante antecipados, apesar de não terem massiva campanha de divulgação ou qualquer coisa do tipo. Ou, ora bolas... Talvez sua carreira sempre tenha sido assim mesmo, e o que mudou foi o público. O importante é que seu estilo de humor continua intacto, apesar de todos os reveses, e este agradável filme é prova disso.

Melinda (uma versátil e surpreendente Radha Mitchell) é a moça idealizada por algumas mentes frutíferas que discutem as diferenças entre tragédia e comédia durante um jantar num restaurante. Assim, sua história é 'imaginada' em duas linhas diferentes, ambas partindo no entanto do mesmo ponto: Melinda chega de repente e interrompe um jantar entre amigos. Na versão trágica da história, ela retorna ao grupo de amigas da adolescência (Chloë Sevigny e Brooke Smith) após um turbulento período de separação do marido e dos dois filhos, apenas para desencadear ainda mais turbulência por onde passa. Na versão engraçada, ela se infiltra na vida do casal vizinho ao seu apartamento (Will Ferrell e Amanda Peet), caindo em suas graças e também alterando a sua rotina.

Ambas as versões da história de Melinda começam contidas e sem muito punch, o qual é desenvolvido também com economia à medida que a trama se complica. Allen parece ter escolhido o elenco de cada lado do roteiro baseado na carreira pregressa dos protagonistas. Chloë Sevigny é figurinha tarimbada de dramas independentes, ao passo que mentalizar Will Ferrell num papel sério não é tarefa das mais simples. Além de Melinda, são eles os principais responsáveis por estabelecer os tons das duas histórias, que em alguns momentos dão a entender que vão se cruzar. Também não dá para evitar a sensação de que o diretor possa estar exorcizando um pouco dos demônios interiores relacionados aos seus casamentos frustrados na figura da Melinda trágica.

O roteiro consegue entregar ótimos momentos quando parte da história envereda por uma estrutura de comédia romântica clássica. Will Ferrell é o alter-ego do diretor neste caso, o que já é no mínimo garantia de algumas risadas. Estas vêm em momentos onde o excesso 'trágico' parece começar a se sobrepôr à bobagem 'comédica', para o bem da platéia que resolver dar uma chance ao devaneio de Woody Allen. Isso porque, por mais que alguém se apegue à nem tão cativante assim personagem de Melinda, fica difícil não sentir um vazio com o desfecho do filme, ainda mais porque uma das variantes da história se perde irremediavelmente em algum ponto de seu clímax.

Fazer o público se importar com os personagens para depois puxar-lhes o tapete reiterando que tudo não passa de um trabalho de imaginação (pois é assim que o filme começa) é cruel, mesmo para uma obra menor de qualquer grande diretor. Ainda bem que em nenhum momento a viagem é monótona. Quem se deu bem em meio a este pequeno ensaio foi Radha Mitchell, sortuda em poder demonstrar sob a batuta de ninguém menos que Woody Allen que é, sim, uma boa atriz.

Texto postado por Kollision em 10/Agosto/2005