É possível sentir no ar, sempre que fala ou se ouve falar desta realização trash, o burburinho acerca de sua inclusão na categoria às vezes incompreendida de "cult". Pondera-se então sobre qual seria o diferencial para tal cogitação. Uma realização paupérrima, de fotografia fraca e protagonizada por elenco amador, sem nenhum atrativo a oferecer além de uma série de bizarrices. Ôpa, aí está! Afinal, bizarrice é o que não falta nesta produção da Troma...
No final da década de 30, um garotinho de nome Luther se esgueira dentro de um circo de aberrações e presencia um "geek" (o filme dá uma explicação para o termo) arrancando a cabeça de uma galinha com os dentes. O garoto cresce traumatizado, e mais adiante é revelado que ele cumpriu pena de mais de 20 anos por assassinato, mas está prestes a ser solto devido ao seu excepcional bom comportamento no cárcere. O que se sucede quando Luther (Edward Terry) ganha a liberdade não é bem o conto do cidadão perdoado e reabilitado. Ele logo retoma o antigo hábito homicida e sai a esmo pela cidade arrancando as jugulares de cidadãos indefesos. Fugindo da polícia, o maníaco resolve atormentar uma viúva (Joan Roth), sua filha (Stacy Haiduk) e seu genro (Thomas Mills) numa casa de campo afastada da cidade.
A anormalidade de Luther é evidente só de vê-lo de relance, o que faz a seqüência de discussão dos advogados pela sua liberdade extremamente cômica, sempre que me recordo dela. A palhaçada é mais ou menos nesse nível mesmo, assim como os absurdos cometidos pelo roteiro também anormal (de ruim). O "geek" não fala, só emite grunhidos como se fosse uma galinha ou um frango engasgado, o que torna as coisas ainda mais bizarras do que se poderia imaginar de seu singelo ponto de partida: a mania de arrancar as cabeças de galináceos com a boca e saborear seu sangue. Sim, há duas ou três cenas de tal ato filmadas em todo seu esplendor cinematográfico trash. Ainda bem que o trabalho de maquiagem e efeitos é decente, em vista dos modestos valores de produção envolvidos. O nível de gore idealizado pelo diretor não desaponta.
Para compensar o terço final, carregado de suspense mal-feito e passagens escuras demais, há uma boa dose de antecipação sadomasoquista e generosas cenas de nudez da típica filha americana de busto avantajado. Como isso aparece na tela não importa, assim como não importam a motivação indecifrável para as atitudes inexplicáveis de Luther ou as reações imbecis das vítimas de sua fúria galinácea. Em determinados momentos a coisa beira a surrealidade. Uma coisa é certa: por mais tosco que seja, Luther - O Sanguinário merece uma espiada como um dos filmes mais anormais já concebidos sobre assassinos seriais. Comédia ou não.
Na seção de extras estão incluídos os bastidores e cenas excluídas para quatro trechos selecionados do longa, acompanhados de comentários do diretor. Há ainda uma entrevista sua de 5 minutos, uma entrevista mais curta com seu filho (o intérprete de Luther quando criança), as apresentações de quatro malucos se exibindo no Freak Show da Troma, a propaganda anti-poluição Radiation March, as propagandas da Troma para o site www.troma.com e para o pacote de DVDs de Make Your Own Damn Movie ("Faça você mesmo a ***** do seu filme"), os trailers de The Children, Vingador Tóxico IV, Tales from the Crapper e Blood Sucking Freaks, além de três apresentações pró-vegetarianismo da PETA que vêem com imagens chocantes de animais sendo maltratados, muitas delas reaproveitadas no videoclipe de Free Me do Goldfinger, também incluso no pacote.
Texto postado por Kollision em 4/Dezembro/2005