A polêmica em torno do drama erótico Último Tango em Paris, quando este foi lançado, é compreensível. Com cenas e linguagem incomuns para a época, o filme foi banido em várias partes do mundo, sofrendo inúmeros cortes onde quer que fosse apresentado. Mesmo assim, Bertolucci e Marlon Brando, o astro, receberam indicações para os Oscars de melhor diretor e ator, respectivamente. No caso de Brando, com mérito.
Brando faz o papel de um homem com seus quarenta e poucos anos, que se vê num apartamento vazio junto a uma moça com aparência de vinte (Maria Schneider) à procura de um lugar para alugar em Paris. Estranhos um para o outro, eles logo se envolvem num relacionamento carnal arrebatador, concordando em deixar suas vidas normais fora das paredes do lugar e nem mesmo mencionar seus nomes. Enquanto suas sessões de sexo prosseguem, mais da vida de cada um, principalmente de Brando, é revelado à platéia. Sua esposa suicidou-se recentemente, e há na verdade uma razão por trás do fato dele estar ali, naquele apartamento vazio, sempre à espera da moça que lhe satisfaz sexualmente.
Inicialmente no escuro quanto à motivação e ao passado dos personagens, o espectador vai recebendo informações a conta-gotas sobre cada um deles. A edição do filme é estranha, com passagens onde não fica claro se o que está acontecendo já passou ou se elas seguem a trama de forma linear. O melhor exemplo é ao mesmo tempo um dos melhores momentos da película, quando Brando desabafa e literalmente desmorona sobre o corpo da esposa falecida. Outras seqüências, como as filmagens do apaixonado diretor de cinema que é o namorado da garota, soam algo desnecessárias e longas demais.
Com boa dose de nudez total (feminina apenas, diga-se de passagem) e linguagem chula, este filme tem ainda uma alta carga de erotismo e definitivamente não é para a garotada menor de idade. Apesar das tórridas cenas entre o duo central, há uma preocupação evidente de Bertolucci em elevar as ações mundanas dos dois a um certo grau poético, nem sempre com o sucesso pretendido. A frieza do homem e o lado notadamente mais emocional da moça alcançam um ápice tenebroso (fãs da imagem intocável de Brando, preparem-se), para depois dar lugar a uma interessante inversão de papéis. É quando o filme recebe uma dose de gás que deixa tudo um pouco mais confuso. Como se aquilo que é mais desejado por cada um dos parceiros fosse ao mesmo tempo temido e afastado de forma quase subconsciente, deixando o relacionamento fadado ao fracasso por mais que os amantes se esforcem.
A ênfase no lado erótico do filme durante a sua divulgação original pode ser conferida no trailer de cinema, que acompanha a edição em DVD.
Texto postado por Kollision em 7/Setembro/2004