Os amores impossíveis são chamarizes imbatíveis para quem aprecia filmes água com açúcar. Aliá-los a um final feliz é que não é tarefa fácil, já que o que é completamente impossível não combina com o termo "feliz", e raramente se mostra atrativo sob o ponto de vista de roteiro e história. Bons filmes foram feitos com o tema da relação impossível, como O Feitiço de Áquila (Richard Donner, 1985), mas eles sempre acabam lançando mão de algum tipo de fantasia para possibilitar a felicidade. A Casa do Lago não foge à regra no que diz respeito à fantasia, mas eu me eximo de revelar se o filme tem final feliz ou não. O que é feliz para alguém, afinal, pode não significar a mesma coisa para outra pessoa.
A fantasia aqui fica por conta de um paradoxo temporal que coloca os pombinhos reincidentes (de Velocidade Máxima) Keanu Reeves e Sandra Bullock em contato um com o outro, muito embora suas realidades estejam separadas por um período de exatos dois anos. O centro da anomalia é a tal casa do lago, construída pelo amargo pai de Reeves (Christopher Plummer) e reformada pelo rapaz num irrefreável ímpeto solitário-romântico. No futuro é Bullock quem mora na mesma casa e, ao mudar-se, deixa mensagem na caixa de correio para que alguém lhe reenvie eventuais correspondências. Por algum motivo que não é muito bom tentar compreender, os dois passam a se comunicar através da caixa de correio. E os desencontros espaço-temporais se sucedem enquanto Reeves persegue os rastros passados de sua amada (só agora me toquei que é por isso que ele aparece em cinza, como um fantasma, no cartaz do filme...).
É como eu disse, nem adianta tentar encontrar lógica na história. Chega um ponto em que o casal parece estar se comunicando por telepatia, numa elipse narrativa um pouco exagerada que só se justifica quando o espectador se entrega completamente à fantasia que o filme se propõe a retratar. O que, convenhamos, é um pouco demais para os céticos e os excessivamente racionais, categoria na qual tenho um pé fincado e ancorado. A sorte da película, e principalmente do diretor Alejandro Agresti, é que Keanu Reeves e Sandra Bullock têm uma boa química juntos, o que ajuda sobremaneira a criar e manter o clima romântico dentro do intrincado conflito temporal da história.
O lado água com açúcar do longa é bem caracterizado, mesmo com a inevitável previsibilidade que se esboça antes dos momentos decisivos no desfecho. O cenário da área e dos arredores de Chicago é bem capturado pela fotografia clara e ensolarada. Christopher Plummer tem uma participação marcante num papel menor, ainda que ele seja usado quase que somente para correlacionar a aura mística da casa do lago com a alegria outrora existente e cultivada por um homem que nem sempre foi tão amargo e distante.
A Casa do Lago é bem feitinho, bonitinho, rasteiro e, infelizmente devido à implausibilidade do todo, fadado ao esquecimento fácil.
Visto no cinema em 20-SET, quarta-feira, sala 6 do Hoyts General Cinema no Shopping Internacional, Guarulhos-SP
Texto postado por Kollision em 13-OUT-2006