Cinema

Kung-fusão

Kung-fusão
Título original: Kung Fu Hustle
Ano: 2004
País: China, Hong Kong
Duração: 95 min.
Gênero: Ação / Comédia
Diretor: Stephen Chow (Kung Fu Futebol Clube)
Trilha Sonora: Stephen Chow, Raymond Wong, Hang Yi
Elenco: Stephen Chow, Wah Yuen, Qiu Yuen, Kwok Kuen Chan, Hsiao Liang, Zhi Hua Dong, Yu Xing, Chi Chung Lam, Kai Man Tin, Kang Xi Jia, Hak On Fung, Xiaogang Feng, Sheng Yi Huang, Cheung-Yan Yuen, Chi Ling Chiu, Suet Lam, Yibai Zhang, Si Lu Ren
Avaliação: 8

O que dizer de um filme de artes marciais que é, ao mesmo tempo, uma comédia pastelão e um impressionante show de efeitos especiais? Inusitado e digno de uma conferida, para dizer o mínimo. Trata-se de mais uma empreitada do mais novo multi-homem das artes marciais a vir do oriente, um digno sucessor de Jackie Chan que aqui faz as vezes de protagonista, diretor, escritor e compositor de Kung-fusão, para citar as responsabilidades mais notórias. O filme bateu o recorde de arrecadação em seu país e teve distribuição massiva no exterior, onde também estabeleceu algumas marcas impressionantes.

Não há muito de uma 'história', para começo de conversa. Numa pacata e pobre vila de camponeses, na realidade um dos últimos refúgios não assolados pela guerra de gangues que varre a região, a paz é perturbada quando dois arruaceiros pé-de-chinelo (Stephen Chow e Chi Chung Lam) tentam conquistá-la em nome da gangue do machado, a mais temível facção criminosa do país. A fúria dos gângsteres é logo aplacada por três mestres do kung-fu que vivem em segredo entre os camponeses, o que por sua vez vai provocar uma guerra entre a gangue de assassinos e a vila desafortunada. Enquanto Stephen Chow e seu companheiro gordo tentam de todas as formas entrar para a gangue, a salvação dos camponeses passa a depender dos três mestres e de mais alguns segredos guardados pelos mais improváveis personagens do conflito maluco.

A tradução para o português do título pode ser indecente, assim como o trailer não entrega muito do que essa pérola do exagero em nome do mais puro entretenimento carrega em seus pouco mais de 90 minutos de duração. O círculo de transferência cultural iniciado pelos irmãos Wachowski em Matrix (1999) se fecha e as inovações introduzidas pelo recente clássico da ficção científica retornam de forma estonteante ao berço de onde saíram. O mais claro exemplo é uma cena que parece ser ao mesmo tempo paródia e homenagem à luta de Neo contra 100 agentes Smith em Matrix Reloaded (2003). A outra vertente pela qual o filme envereda é o advento de poderes que conferem aos mestres do kung-fu algo que só pode ser definido como uma mistura de Dragon Ball Z, jogos de briga da CAPCOM, o Neo de Matrix e Cavaleiros do Zodíaco. Acreditem, o que acabo de escrever não é exagero.

A violência da seqüência de abertura pode assustar um pouco, mas é só começar a palhaçada que tudo fica estilizado e mais digerível como comédia de ação. Obviamente, há um preço a se pagar pelo alto volume de tomadas em CGI utilizadas nas cenas movimentadas do filme. Como era de se esperar, nem sempre elas são convincentes. O que de forma alguma chega a comprometer a diversão, com exceção de uma passagem: a corrida à la Papa-Léguas pode ser bacana, mas força demais a barra e não encontra respaldo algum dentro da narrativa. Os trechos românticos envolvendo a relação entre o bandido contrariado de Stephen Chow e sua namoradinha de infância transitam perigosamente entre o piegas e o cinematograficamente encantador, como o final bacana pode comprovar. Além do engraçadíssimo Chow, há personagens impagáveis como a Fera (Hsiao Liang), o mestre máximo do kung-fu, que lembra muito um dos meus professores de faculdade.

Kung-fusão é a síntese anabolizada do que pode ser feito de bom com apenas 20 milhões de dólares, quantia hoje irrisória para qualquer blockbuster que se preze. Atesta a ascensão mundial do alucinado Stephen Chow e representa garantia de ótima diversão descerebrada e boas risadas.

Texto postado por Kollision em 18/Agosto/2005