Cinema

O Plano Perfeito

O Plano Perfeito
Título original: Inside Man
Ano: 2006
País: Estados Unidos
Duração: 129 min.
Gênero: Policial
Diretor: Spike Lee (Faça a Coisa Certa, Malcolm X, O Verão de Sam)
Trilha Sonora: Terrence Blanchard (Glitter - O Brilho de uma Estrela, A Última Noite)
Elenco: Denzel Washington, Clive Owen, Jodie Foster, Christopher Plummer, Willem Dafoe, Chiwetel Ejiofor, Carlos Andrés Gómez, Kim Director, James Ransone, Bernie Rachelle, Peter Gerety, Victor Colicchio, Cassandra Freeman, Peter Frechette, Gerry Vichi, Waris Ahluwalia
Avaliação: 7

Do clichê presente no título em português, pode-se à primeira vista esperar o feijão com arroz que sempre coalha as sempre manjadas tramas de assaltos a banco que já foram, ou serão eventualmente, filmadas. No entanto, para diferenciar-se do todo, O Plano Perfeito vem com um elenco de peso e com a assinatura de um diretor que sempre primou por trabalhos que de cinema mainstream não tinham praticamente nada. Isso faz com que o filme seja, de longe, a obra mais próxima do conceito de cinema pipoca que Spike Lee já foi capaz de fazer.

Os funcionários e os clientes do Manhattan Chase Bank são surpreendidos com a entrada abrupta no local de quatro pintores, que logo se revelam assaltantes e colocam todos em estado de pânico como reféns de um aparente e ousado roubo. Seu líder, que se apresenta à platéia sob o nome de Dalton Russell (Clive Owen), é um homem implacável e de poucas palavras. O detective Keith Frazier (Denzel Washington) é designado de surpresa para o caso, já que o detetive oficial não se encontra. Unindo-se ao capitão da divisão local (Willem Dafoe), Frazier inicia uma negociação de risco com os assaltantes, mas é logo surpreendido pela chegada da enigmática Madeline White (Jodie Foster), uma espécie de agente política contratada pelo dono do banco (Chritopher Plummer) para assegurar que um pacote de conteúdo polêmico não chegue às mãos dos bandidos. Cada vez mais o detetive Frazier se convence de que este não é um assalto a banco normal, e que as verdadeiras intenções dos criminosos podem não ter muito a ver com dinheiro.

A engenhosidade do roteiro se mistura a características meio estranhas dos personagens deste thriller feito exclusivamente para entreter (e, diga-se de passagem, para dar idéias aos potenciais assaltantes de banco da vida real). A edição atípica e original da narrativa ajuda a tirar a história do lugar-comum, e os enfeites de luxo ficam por conta da auto-apresentação de Clive Owen como o bandidão e das cenas em que ele está na prisão arquitetando o seu plano "perfeito", que praticamente nada acrescentam ao enredo e só estão lá para, talvez, ajudar a estabelecer a persona calculista do bandido, já que ele passa boa parte do filme com o rosto escondido por uma máscara.

Subvertendo o foco da atenção do espectador quanto ao conceito do vilão, o filme faz, em determinado ponto, com que a platéia passe a torcer para os assaltantes. O que já não é muito difícil, dado o carisma que Clive Owen deixa transparecer, mesmo quando está mascarado. A cara de cínico de Christopher Plummer entrega o quanto o banqueiro tem culpa no cartório, e tudo o que o espectador quer ver é como essa figura tragicamente marcada por seus atos passados será descoberta. O único problema é que a personagem de Jodie Foster soa vagamente utópica, com seu tipo confiante, presunçoso e ardiloso, a matrona de discurso inflado que sempre consegue tudo o que quer. Por outro lado, quem surpreende mais é Denzel Washington, que assume um papel calcado numa caracterização inicialmente ordinária e dúbia, evoluindo com os eventos do filme para um policial íntegro como poucos.

Com estilo de câmera nervoso nas cenas de ação e as suas já mencionadas particularidades, o restante do filme não desvia muito dos longas aos quais os espectadores estão acostumados. Entre mortos, feridos e expostos, quem se dá bem no final das contas é a platéia, que ganha mais um bom "longa de assalto a banco", sub-gênero que vira e mexe é revivido com pompa por Hollywood.

Texto postado por Kollision em 16/Abril/2006