Assim como muitos outros produtos televisivos antes dele, a série A Grande Família percorreu um caminho de razoável sucesso antes de se transferir para o cinema sob a forma de um longa-metragem. O mero lançamento do filme é uma prova irrefutável da qualidade do programa, estrelado por uma família paulistana disfuncional mas muito unida, num arquétipo da instituição familiar brasileira com a qual muitas pessoas podem se identificar perfeitamente. A transposição do material da TV para o cinema acaba, neste caso, esbarrando num roteiro que peca por uma inexplicável repetitividade quase exponencial rumo ao clímax, que decepciona quem esperava um diferencial maior graças à boa premissa da história.
O pai de família e funcionário público Lineu (Marco Nanini) entra em pânico quando vai ao médico fazer um check-up e vislumbra a possibilidade de que possa ter algum tumor maligno. Sem abrir o resultado do exame, Lineu passa a se comportar de forma cada vez mais estranha em relação à esposa Nenê (Marieta Severo), sendo que nem mesmo ao baile anual de comemoração do aniversário de namoro ele quer ir mais, e ao filho Tuco (Lúcio Mauro Filho), a quem ele expulsa de casa por vadiagem. No trabalho, o colega Mendonça (Tonico Pereira) tenta animá-lo a se engraçar com uma nova funcionária (Dira Paes), o que só lhe traz problemas. Para piorar, o retorno de um antigo interesse amoroso de Nenê (Paulo Betti) ameaça de vez seu já abalado casamento. Enquanto isso, a filha Bebel (Guta Stresser) leva o genro Agostinho (Pedro Cardoso) para fazer um exame de fertilidade, enquanto a vizinha (Andréa Beltrão) vislumbra no ex-namorado bonitão de Nenê uma chance de finalmente desencalhar.
Com uma estrutura narrativa que parece ousada de início, mostrando várias versões das conseqüências das atitudes do patriarca Lineu, o filme mantém um bom pique até mais ou menos a sua metade. O abuso do recurso torna-se, a partir de então, redundante e tedioso, alongando demais o filme e lembrando que o material, talvez, devesse ter sido mesmo confinado à redoma televisiva. Na reta final, as piadas e situações já não surtem mais o efeito desejado, enquanto o roteiro enfia os pés pelas mãos para chegar a uma resolução para toda a bagunça.
O fato da linguagem do longa conseguir se desvencilhar do estilo da TV, fazendo com que seja possível apreciar a comédia mesmo sem nunca ter assistido ao programa original, conta a favor do estabelecimento do clima de família temperamental. Esta é uma virtude que poucos trabalhos com esse perfil possuem, mas A Grande Família - O Filme é um longa que será bem mais apreciado por quem já tem algum carinho pelos personagens. Rogério Cardoso, falecido poucos meses antes da realização do longa, faz falta. Mas sua falta é parcialmente compensada pela presença de coadjuvantes hilários como o Mendonça de Tonico Pereira, ou esfuziantes como a Marilda de Andréa Beltrão. Aliás, é uma pena constatar que um mulherão como ela jamais foi aproveitado do jeito que deveria dentro do cinema brasileiro.
O esforço geral é válido. Deixa a desejar, mas pelo menos não envereda pelo desastre que quase sempre acompanha transposições da TV para o cinema.
Visto no cinema em 13-FEV, Terça-feira, sala Cinemark 5 do Shopping Iguatemi em São Paulo - Texto postado por Kollision em 20-FEV-2007