O cinema de horror espanhol da segunda metade do século XX compartilha, juntamente com a escola mexicana do gênero, uma espécie de categoria secundária em relação às obras da produtora Hammer, consolidada como o "top de linha" em matéria de filmes classe B de vampiros, monstros e afins. Há uma certa injustiça nesta condição, uma vez que muitos dos trabalhos dos hermanos tanto do lado de lá quanto do lado de cá do oceano se equivalem e em certos casos até mesmo superam os filmes padronizados dos colegas ingleses. No caso do estranho El Gran Amor del Conde Drácula, a atmosfera lembra bastante as produções da Hammer, com uma caracterização vampiresca que chama a atenção pelo enfoque no macabro.
Quatro moças e um rapaz ficam isolados nos desfiladeiros ermos próximos a um sanatório recém-ocupado pelo médico estrangeiro Wendell Marlow (Jacinto Molina). Os cinco são obrigados a pedir abrigo ao doutor, que os acolhe de bom grado e desperta a curiosidade das moças. Um a um, os visitantes são transformados em vampiros pelos servos da mansão. Galante e atencioso, Marlow é ninguém menos que o próprio conde Drácula reencarnado, que deseja conquistar a virgem do grupo de moças (Haydée Politoff) sem transformá-la em vampira, num plano demoníaco cujo objetivo é reviver a carcaça sem vida da condessa Drácula.
Não é só na profanação de alguns personagens do romance original de Bram Stoker que o filme de Javier Aguirre se destaca, uma vez que ele toma liberdades com o trabalho do professor Van Helsing para justificar a necessidade que o Drácula de Jacinto Molina (que usa aqui o pseudônimo também bastante conhecido de Paul Naschy) tem de conquistar uma virgem sem morder-lhe o pescoço. Isso sem mencionar a teoria sobre a reencarnação do vampiro. Por isso, Molina emprega um ar de conquistador em sua interpretação, que é por sua vez bastante diferente do modo como as vítimas vampirizadas por ele se comportam. As criaturas, por exemplo, não falam, e são caracterizadas como uma mistura de seres da noite e zumbis. Aliado ao uso quase abusivo de câmera lenta em várias tomadas (coisa rara em qualquer filme de vampiro), uma dose razoável de nudez feminina e uma trilha sonora macabra e atmosférica, o estilo acaba influindo positivamente no nível de morbidez do longa.
Porém, para um trabalho que em sua primeira metade é até extremamente bem realizado para uma obra de baixo orçamento, o resultado é infelizmente comprometido em sua reta final, que sai dos trilhos completamente com uma narração em off maluca e uma edição entrecortada que só pode ser herança de sucessivas mutilações da censura da época. A cena dos créditos iniciais, que mostra várias e várias vezes a vítima de uma machadada na cabeça rolando escada abaixo enquanto a música estabelece o clima do filme, é de um primor classe "B" que impressiona. É exatamente o oposto do desfecho da história, uma faca nas costas do espectador que joga por terra qualquer esperança de salvação para o Drácula de Jacinto Molina e quase destrói o filme por completo.
Com uma péssima qualidade de imagem e som, provavelmente capturados a partir de uma cópia televisiva empoeirada, o DVD não traz um extra sequer acompanhando o filme.
Texto postado por Kollision em 23/Julho/2006