Visto via Netflix em 13-JUL-2020, Segunda-feira
Para quem aprecia filmes que se autoproclamam trabalhos de arte ou para aqueles que gostam de um desafio cerebral ao estilo dos longas de David Lynch, Sombras da Vida é prato cheio. Apesar de exalar um tom relacionado ao horror, o filme é na verdade um drama intimista, contemplativo, de pouquíssimos diálogos e ritmo extremamente lento. Casal jovem (Rooney Mara e Casey Affleck) diverge sobre mudar-se ou não da casa onde vivem, até o dia em que ele morre num acidente inesperado. Logo depois, já no necrotério, seu espírito se levanta da cama do legista, e ainda com o lençol que recobre seu corpo retorna para casa, passando a vagar lá dentro enquanto observa a esposa em luto. O que se segue é uma lenta e longa abstração que acompanha o passar dos anos, plantando na mente da plateia dúvidas quanto ao objetivo final do fantasma e ao próprio propósito do filme. Pródigo em apresentar cenas que se estendem além do que seria aceitável (o que me lembra de alguns dos embustes feitos pelo cineasta português Manoel de Oliveira), Sombras da Vida não faz concessão narrativa alguma e termina aberto a todo tipo de interpretação. Só faltou mesmo fornecer subsídio dramático para que tudo funcionasse, vide o contraste entre o torpor de tédio do casal em vida e a forte conexão denotada pela influência de sua relação na obstinação do fantasma.