Quem cresceu assistindo às aventuras de Indiana Jones no cinema e na TV durante a década de 80 tem uma imagem nítida de Harrison Ford como o herói arquetípico, capaz das acrobacias e feitos mais mirabolantes em busca do Santo Graal, da arca perdida ou da liberdade de um bando de criancinhas. É fato que, de lá para cá, o astro envelheceu com dignidade, apesar de seus trabalhos no cinema terem se tornado menos freqüentes. Já sexagenário e sem esconder a idade, ele retorna à ativa neste thriller que lhe dá um papel bastante parecido com várias de suas performances anteriores. E, em se tratando de Ford, pode-se ter certeza que tanto sua presença cênica quanto sua veia de astro de ação ainda estão intactos, contribuindo muito para a eficiência do longa.
O papel da vez é o do gerente de segurança de um banco emergente Jack Stanfield, que inicia o filme no meio de um processo conturbado de fusão de sua empresa com outra companhia, chefiada por um engravatado arrogante (Robert Patrick). Sua vida é subitamente virada de pernas para o ar quando seu amigo Harry (Robert Forster) apresenta-o a um novo executivo (Paul Bettany) que logo se revela um violento assaltante da era moderna: o cara e sua gangue se apoderam da casa e da família de Jack (entre eles a esposa feita por Virginia Madsen), e chantageiam-no para que ele burle o sistema de segurança da própria empresa e roube eletronicamente 100 milhões de dólares do banco. Preso numa terrível arapuca, o gerente tenta de todas as formas salvar sua família da morte certa nas mãos de bandidos cada vez mais violentos.
Bom entretenimento. Essa é a expressão que melhor define o filme de Richard Loncraine, que trouxe para as filmagens o astro de seu filme anterior, Paul Bettany. Por incrível que pareça, Bettany está extremamente à vontade no papel de um ladrão com pinta de terrorista, um lunático sem escrúpulos e alucinado por dinheiro. O pega entre ele e Harrison Ford é cozinhado em banho maria e muita tensão durante o filme inteiro, mas pega fogo (literal e praticamente) na seqüência final, e demonstra que o velho Indiana Jones ainda tem muito fôlego para, talvez, protagonizar o quarto capítulo da série do arqueólogo aventureiro.
Para os padrões hollywoodianos de realizações do tipo, Firewall tem um roteiro até inteligente, com umas surpresas aqui e ali para atiçar a mente da platéia. Sua campanha publicitária tenta capitalizar em cima de um sucesso antigo de Harrison Ford (reparem como o cartaz do filme lembra muito o de O Fugitivo, dirigido por Andrew Davis em 1993), e até a construção geral da história tem o mesmo jeitão deste e de tantos outros filmes onde Ford protagonizou o sujeito comum confrontado por uma situação extraordinária. Sendo esta a fórmula clássica para a estruturação de um roteiro envolvente, a realização decente e meio que padronizada da obra de Richard Loncraine acaba pecando em parte pelos inevitáveis clichês destilados ao longo do filme. Inevitáveis, mas que não desabonam de forma alguma o aspecto do entretenimento.
O deslize maior vem mesmo na última cena do filme, uma inominável e completamente desnecessária ovação à instituição familiar americana, esplendorosa em sua pieguice e, para completar o desastre do take, editada em câmera lenta. Já que era para ser assim, por que não terminar o filme com uma panorâmica aérea se distanciando em direção ao horizonte sem fim? Triste, cinematograficamente falando, o que por muito pouco não nos faz esquecer de toda a história que os conduziu até ali.
Texto postado por Kollision em 24/Março/2006