Cinema

Fica Comigo Esta Noite

Fica Comigo Esta Noite
Título original: Fica Comigo Esta Noite
Ano: 2006
País: Brasil
Duração: 73 min.
Gênero: Comédia
Diretor: João Falcão (A Máquina)
Trilha Sonora: Robertinho de Recife
Elenco: Vladimir Brichta, Alinne Moraes, Gustavo Falcão, Laura Cardoso, Clarice Falcão, Mílton Gonçalves, Zéu Brito, Alessandra Mestrini, Rodrigo Penna, Marly Bueno, Bruno Cariati, João Pedro Costas
Avaliação: 5

Rasteiro tanto no tempo de duração quanto no enfoque dado ao tema de cunho espírita, Fica Comigo Esta Noite ousa ser uma comédia de humor negro e um romance semi-açucarado, em texto adaptado a partir de uma peça de teatro. O diretor João Falcão, que vinha de uma estréia elogiada pela crítica (A Máquina) tenta fazer de tudo para burlar a essência da fonte, mas na maior parte do tempo vê seu filme sucumbir à verborragia e à encenação características da linguagem teatral.

O filme é narrado em primeira pessoa pelo músico e quadrinista Edu (Vladimir Brichta), vítima de uma morte repentina durante uma de suas brigas domésticas com a bela esposa Laura (Alinne Moraes). Edu recapitula toda a história dos dois desde o momento em que se conheceram, passando pelo casamento e pelo fatídico dia em que morre. Ao desencorpar, seu "fantasma" se recusa a partir e faz de tudo para voltar a ter algum contato com a amada, com a ajuda de outro fantasma renegado e poeta (Gustavo Falcão) e de uma mocinha anjo da guarda que acaba de receber sua primeira missão na Terra (Clarice Falcão).

A intenção é boa. Os protagonistas foram bem escolhidos: Vladimir Brichta por seu tino para a comédia e Alinne Moraes, em seu primeiro papel no cinema, por óbvias razões plásticas. A moça não faz feio, mas também não acrescenta nenhum brilho adicional ao papel da esposa rejeitada pelas constantes ausências do marido. O elenco de suporte está lá para garantir que o filme não seja só um enorme diálogo, e o destaque maior vai para Mílton Gonçalves, que no papel do padre protagoniza o único momento capaz de arrancar gargalhadas rasgadas da platéia. O resto da história só é capaz de suscitar algumas risadas amarelas e uma sensação de espanto por tudo acabar tão rapidamente.

Usando referências pop que remetem a vários poetas brasileiros e à indústria dos quadrinhos, em particular ao universo de Sin City de Frank Miller (do qual o maior exemplo é a bacaníssima seqüência dos créditos de abertura), o filme aposta numa abordagem com estilo moderno e ágil, que no entanto não consegue fazer os diálogos escaparem da artificialidade. Em seu próprio universo do além, parte das regras é aquilo que todo mundo já conhece de outros carnavais, e parte vem com uma pesada forçação de barra associada à comunicação dos mortos com o mundo dos vivos. O final, que abusa da fantasia, é o maior exemplo disso. Apesar de tudo, uma das idéias mais fantasiosamente intrigantes – bobas, mas intrigantes – é a de que os espíritos são os responsáveis pelo nosso ato de bocejar. Tá bom, então eles só resolvem importunar os vivos que ficaram muito tempo acordados...

A morbidez exalada pelo pôster do filme, que ao mesmo tempo tenta subliminarmente dar um ar de Keira Knightley à neófita Alinne Moraes, é afastada pela índole brincalhona do protagonista, o diferencial que afasta o humor negro mostrado no longa da perigosa categoria associada a piadas de mal gosto. A favor do filme conta o fato do tema do amor além da morte ser uma constante que em nenhum momento é deixada de lado, mesmo com as irregularidades óbvias da história.

Visto no cinema em 29-NOV, Quarta-feira, sala 1 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 3-DEZ-2006