Diretor reverenciado como um dos mais talentosos de todos os tempos, o polonês Roman Polanski entregou com este longa uma contribuição de peso para o gênero de filmes de vampiro. Numa época em que as produções de maior divulgação e vulto eram dominadas pelos estúdios Hammer, A Dança dos Vampiros surgiu para mostrar que o horror vampírico ainda podia render filmes inovadores, desmentindo a opinião vigente acerca do esgotamento da fórmula. A presença da conhecida veia humorística bastante característica da obra é somente o maior diferencial de um trabalho extremamente bem produzido e caracterizado, que atesta a visão única de Polanski e diverte de uma forma que chama a atenção pela sua singularidade.
Nas inóspitas montanhas cobertas de neve da Transilvânia, o professor Abronsius (Jack MacGowran) e seu fiel mas medroso assistente Alfred (Polanski) prosseguem em sua peregrinação em busca das provas para as teorias que levaram o professor a ser expulso do meio acadêmico. Suas suspeitas se mostram verdadeiras quando eles se hospedam na taberna de um camponês local (Alfie Bass) que tem a bela filha (Sharon Tate) raptada no meio da noite por um vampiro, um tal de conde Von Krolock (Ferdy Mayne). Abronsius e Alfred, que está bem mais preocupado em se dar bem com a moça raptada do que em exterminar os vampiros em si, partem numa missão de exploração no castelo do vampiro, na mesma noite em que Von Krolock se torna o anfitrião de um baile de mortos-vivos sugadores de sangue – baile a cuja dança de gala o título em português do filme faz referência.
Poucos filmes de vampiros passados no velho mundo conseguem transmitir a sensação de isolamento e estranheza deste pequeno clássico de Polanski. O esforço em se filmar tudo em meio a cenários com neve é recompensando por uma ambientação única que, associada ao estilo da história, resulta num conto ao mesmo tempo macabro e engraçado, uma das melhores combinações entre horror sério e humor já conseguidas no gênero. Afinal, a despeito do envelhecimento de algumas das situações cômicas, A Dança dos Vampiros tem material de sobra para causar rompantes de riso, mas também não brinca em serviço quando o assunto é impressionar a platéia com caninos salientes e sangue jorrando. O filme é exemplar ao combinar o clássico tema dos vampiros em seu castelo íngreme com novos elementos agregados graças à utilização da equipe caça-vampiros.
Todo o elenco merece menções honrosas em suas performances, mas é a dupla de destemidos exterminadores de sanguessugas que mais protagoniza passagens recheadas de ironia e humor negro. Jack McGowran e seus cacoetes de cientista louco podem muito bem ter servido de inspiração para Christopher Lloyd na série De Volta para o Futuro, ou para Roddy McDowall nos dois longas da série A Hora do Espanto. Foi neste filme que Roman Polanski conheceu e se afeiçoou à deslumbrante Sharon Tate, que mais tarde seria assassinada por Charles Manson e causaria uma ruptura na carreira do diretor. Ela não tem lá muita presença cênica como a moça viciada em banhos que deixa o palerma Alfred apaixonado, mas deixa transparecer muito bem os encantos que por fim fisgaram Polanski.
O DVD tem como extras o trailer da produção e um engraçado documentário de 10 minutos apresentado por Max Wall, no papel de um expert em vampiros que aproveita para fazer propaganda do filme entre uma explicação e outra sobre os monstros sugadores de sangue.
Revisto em DVD em 23-DEZ-2006, Sábado - Texto postado por Kollision em 27-DEZ-2006