Cinema

Escalofrío

Escalofrío
Título original: Escalofrío
Ano: 1978
País: Espanha
Duração: 80 min.
Gênero: Terror
Diretor: Carlos Puerto
Trilha Sonora: Librado Pastor
Elenco: José María Guillén, Mariana Karr, Ángel Aranda, Sandra Alberti, Manuel Pereiro, Luis Barboo, José Pagán, Isidro Luengo, Ascensión Moreno, Carlos Castellano
Distribuidora do DVD: Mondo Macabro
Avaliação: 7

Na trilha de outros trabalhos de cunho demoníaco de sua época, e com visíveis semelhanças com obras como O Bebê de Rosemary (Roman Polanski, 1968) e A Sentinela dos Malditos (Michael Winner, 1977), este filme apresenta uma visão bastante válida e ousada do tema, pela presença de nudez e situações eróticas em profusão, associadas a uma ambientação eficiente. Lançado em VHS nos anos seguintes sob o título de Don't Panic, e recentemente como Satan's Blood, permanece como um dos mais interessantes e marginais filmes de terror espanhóis, surgido durante o boom que se seguiu à queda da censura advinda da morte do general Franco.

Andrés (José María Guillén) e Ana (Mariana Karr) são um casal normal que sai para passar um dia de lazer em Madrid. Eles são abordados no trânsito por outro casal simpático, Bruno (Ángel Aranda) e Berta (Sandra Alberti). Bruno demonstra efusivamente ser um amigo de escola de Andrés, e o convida para ir até a sua casa relembrar os velhos tempos. Mesmo não se lembrando de Bruno, Andrés e sua esposa os acompanham até uma propriedade remota, onde os anfitriões revelam ser na realidade adoradores de Satanás. Eles se entregam a rituais de luxúria e sexo que terminam em morte e assassinato, arrastando Andrés e Ana para um terrível pesadelo macabro.

Eis um filme de terror menor que se mostra bastante decente, com o diferencial adicional de ser completamente despudorado no aspecto da nudez. Em nenhum outro filme produzido por um grande estúdio, por exemplo, pode se esperar ver a protagonista nua em pêlo num altar de oferendas malditas, ou uma orgia simulada (sem sexo explícito, claro, pois este é um trabalho de horror) que coloca todos os atores numa demonstração bastante próxima do que seria de fato uma cerimônia de tal natureza. A direção de Carlos Puerto acerta ao dosar o suspense psicológico em meio à mitologia do satanismo – especialmente incômodas são as cenas em que os anfitriões da casa são surpreendidos fazendo um lanchinho na cozinha – e faz bom uso do reduzido elenco em cena. Nenhuma das duas atrizes principais é um estouro, mas ambas se mostram interessantes dentro daquilo que o filme oferece, e desempenham seus papéis com uma dedicação maior que a esperada para um filme de baixo orçamento.

Como o demônio escolhe aqueles a quem ele vai atormentar? Da mesma forma que muitas outras películas similares, Escalofrío nem se dá ao trabalho de responder esta questão, praticamente extirpando referências cristãs do bem dentro da história (a exceção seria um quadro de Jesus que se desintegra durante um ritual maldito). Um sinal de liberalismo raramente visto, por exemplo, é o fato do casal inocente se entregar de corpo e alma aos pecados da carne e ao adultério, e nem sequer demonstrar qualquer resquício de arrependimento no dia seguinte, do tipo "foi tudo culpa do demônio". A consciência de que algo muito errado está acontecendo só vem tarde demais, como toda boa história do tipo costuma ser.

Tirando a presença inexplicada de um estranho na casa maldita, a história é marcada por passagens memoráveis, como a cena inicial completamente sem vínculo algum com o resto da história, e tem gore suficiente para garantir a boa reputação que o filme desfruta no aspecto da violência gráfica. Serve como uma sólida ponte entre o lado B dos longas de horror e as bem-feitas e sexualmente menos ousadas produções de grandes estúdios.

Há faixas de áudio em espanhol e inglês no DVD da Mondo Macabro, além de opção de áudio em espanhol com legendas em inglês. O pacote de extras inclui um prólogo de dois minutos que deveria preceder o filme em algumas de suas versões, uma entrevista de 25 minutos com Gavin Baddeley, reverendo da igreja de Satã e autoridade renomada sobre o ocultismo, artigo em texto sobre o filme, quatro galerias de fotos da produção e o tradicional compêndio com outros lançamentos da distribuidora.

Visto em DVD em 29-DEZ-2006, Sexta-feira - Texto postado por Kollision em 2-JAN-2007