Cinema

As Bruxas de Salem

As Bruxas de Salem
Título original: The Crucible
Ano: 1996
País: Estados Unidos
Duração: 124 min.
Gênero: Drama
Diretor: Nicholas Hytner (A Razão do Meu Afeto, Sob a Luz da Fama, A Senhora da Van)
Trilha Sonora: George Fenton (No Amor e na Guerra, Em Luta pelo Amor, Hitch - Conselheiro Amoroso)
Elenco: Daniel Day-Lewis, Winona Ryder, Paul Scofield, Joan Allen, Bruce Davison, Rob Campbell, Jeffrey Jones, Peter Vaughan, Karron Graves, Charlayne Woodard, Frances Conroy, Elizabeth Lawrence, George Gaynes, Mary Pat Gleason, Robert Breuler, Rachael Bella, Ashley Peldon, Tom McDermott, John Griesemer, Michael Gaston, William Preston, Ruth Maleczech, Sheila Pinkham
Distribuidora do DVD: Fox
Avaliação: 8

Este filme foi, durante bastante tempo, um grande sucesso teatral. A transposição para o cinema coube nada menos que ao próprio autor da peça, baseada num caso verídico passado nos EUA durante a metade do século 17. Apesar de não ser perfeito, o trabalho do escritor/roteirista Arthur Miller é de uma força arrebatadora, capturando com veemência as idéias absurdas da igreja de então e dando mais uma oportunidade para Daniel Day-Lewis provar que é, de fato, um dos melhores atores de sua geração.

A história gira em torno da pequena cidade de Salem, que é palco de um inquérito religioso de proporções consideráveis provocado por um grupo de adolescentes liderado pela libertina Abigail (Winona Ryder). Descoberta durante um profano ritual de dança na floresta pelo pastor Parris (Bruce Davison), Abigail não hesita em conclamar as amigas para montar uma farsa de bruxaria que acaba por envolver vários cidadãos inocentes. Entre eles está John Proctor (Day-Lewis), por quem Abigail é desesperadamente apaixonada, a ponto de ameaçar sua esposa (Joan Allen) para ficar com ele. As coisas só tendem a piorar com a chegada do reverendo investigador Hale (Rob Campbell) e do juiz Danforth (Paul Scofield), responsáveis pelo extermínio do diabo na cidade de Salem, custe o que custar.

O tema desta obra não é de fácil identificação ou assimilação. Logo, é um espanto o modo como o filme consegue, lentamente, a partir de um início não muito promissor, evoluir para um intrincado jogo de intrigas que se mostra, em sua conclusão, dotado de sensibilidade, emoção e verdadeiro enternecimento diante da ignorância do ser humano. Mistura de romance, drama e filme de tribunal, As Bruxas de Salem consegue ser um contraste pungente entre a maldade imberbe motivada por paixões avassaladoras e a coragem de se manter fiel àquilo em que se acredita. Principalmente depois da sua primeira hora, quando os personagens se definem por completo e se colocam em suas devidas posições, ou ao lado da igreja e de Deus, ou ao lado dos bruxos e bruxas aliados ao demo. Passagens revoltantes e desempenhos memoráveis de Daniel Day-Lewis e Joan Allen pontuam o espetáculo com a classe que ele merece.

Como chefe das verdadeiras bruxas de Salem, Winona Ryder e sua carinha de anjo caíram como uma luva no papel da devassa e manipuladora Abigail. É revoltante constatar que a repressão infundada e a Igreja eram (e continuam sendo) os principais responsáveis por tanta injustiça cega ao redor do mundo. Só assim para justificar a impotência da razão diante da fé e a maldade inicial do grupo de moças colocadas contra a parede (notadamente, a conexão mais espinhosa do roteiro), que na vida real muito provavelmente jamais teriam idéia das trágicas conseqüências seus atos. Se bem que o ser humano se acostuma fácil às coisas, principalmente quando está seguro e por cima da cadeia hierárquica de qualquer sistema...

O DVD lançado pela Fox não dá nada de lambuja para o espectador que espera por algum material especial. O disco vem mesmo só com o filme, não há um extra sequer.

Texto postado por Kollision em 29/Outubro/2005