Click é indicado para duas categorias de cinéfilos: a primeira delas é a dos que apreciam de alguma forma as comédias rasteiras de Adam Sandler; a segunda inclui quem se deixa levar por historietas onde o personagem principal faz das suas, apronta o que quer e aprende uma lição no final. Basta dizer que esta é a terceira vez que o diretor Frank Coraci se associa a Sandler. E a melhor colaboração entre ambos continua sendo, sem sombra de dúvida, o ótimo Afinado no Amor.
Há bons momentos no filme, que fica na média do gênero graças à própria natureza fantástica do roteiro, que coloca nas mãos do pai de família workaholic e estressado feito por Sandler um controle remoto universal (MESMO), que ele logo descobre ser capaz de influenciar tudo a respeito da sua vida. O dispositivo dá acesso a toda a sua não tão maravilhosa existência como se ela se tratasse de um filme num aparelho de DVD. E os comentários dos making-ofs são feitos por ninguém menos que James Earl Jones... Boa sacada. Assim como as piadinhas futuristas envolvendo Britney Spears.
Ponto lamentável: Kate Beckinsale não tem qualquer participação ativa na trama. Aliás, ninguém tem, só o astro Adam Sandler é que usufrui do artefato miraculoso, e dele sofre as conseqüências. Mas dá para perceber fácil que, debaixo de toda a maquiagem que Beckinsale usou na série Anjos da Noite, há algo para justificar a declaração de Angelina Jolie, que disse numa entrevista ter vontade de dar umas pegadas na moça. Que visão seria essa, hein? Por algum acaso não estaria David Lynch disposto a fazer um Cidade dos Sonhos 2 e aproveitá-las no elenco não? OK, quem disse que eu não posso sonhar?
Christopher Walken? O de sempre, num papel maluco feito sob medida para o seu biotipo esquisito.
Quanto ao roteiro em si, há apenas uma grande inconsistência, que dependendo do ponto de vista talvez tenha sido concebida como uma alavanca de conflito na qual se sustenta todo o drama vivido pelo protagonista: o controle avança os momentos de sua vida quando ele quer, mas o coitado não pode voltar e mudar o que aconteceu nos momentos em que viveu no modo "piloto automático", dos quais ele não guarda recordação nenhuma. Ou seja, aqui não há nada de Efeito Borboleta. Existe, sim, uma mensagem, que é levada às últimas conseqüências no clímax meloso. O que é mais importante? Como estabelecer prioridades que sejam harmoniosas num mundo cada vez mais competitivo e caótico?
Quem diria que uma comédia desse porte poderia fazer tal indagação? Se bem que não há novidade alguma nisso, é que a propaganda de divulgação de Click não insinua nada a respeito, e o longa pega o espectador de calças curtas com o melodrama do último ato. Não há nada de excepcional no modo como a mensagem é transmitida, é verdade. Mas não dá para ficar indiferente a ela logo que a sessão termina, principalmente se você está sujeito à mesma correria corporativa do protagonista Michael.
Visto no cinema em 19-AGO, Sábado, sala 6 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 24-AGO-2006