Revisto em DVD em 2-JUN-2012, Sábado
Beavis & Butt-head retornaram em uma nova série pela MTV em 2011, mas envergonho-me em dizer que ainda não assisti a nenhum episódio. Os fãs antigos sabem o quanto a série é genial em sua estupidez e ácida em sua crítica à juventude norteamericana, mas essas mesmas qualidades afastam aqueles que não dão chance a nenhum material que seja politicamente incorreto ou artisticamente "tosco". A revisão deste clássico confirmou o que eu já suspeitava: Mike Judge criou uma comédia atemporal, única e com características tão específicas que o status de cult vem acompanhado do sempre polêmico bordão do "ame ou odeie". Algumas coisas perdem a graça quando a gente fica mais velho/experiente, mas isso não aconteceu (ainda) com Beavis & Butt-Head.
Falando nisso, será que Judge não poderia fazer mais um longa-metragem com os personagens? Eu posso sonhar, né?
Texto postado por Kollision em 16/Janeiro/2006
Ícones da deterioração mental pré-adolescente, os destrambelhados Beavis e Butt-head angariaram uma legião respeitável de fãs em muito pouco tempo de vida e, ironicamente, ajudaram a estabelecer a bagagem da MTV como produtora de desenhos animados de respeito. Se não fosse por eles, por exemplo, pérolas como a série South Park talvez nem viessem a existir. Mike Judge, o maluco por trás de tudo, não perdeu tempo e tratou de colocar seus personagens num desenho de longa-metragem lançado em 1996, que diferente dos episódios regulares só tinha a ausência dos videoclipes comentados pelos dois bocós. O humor chulo (ainda que bastante inocente) e corrosivo de seu texto permaneceu o mesmo, mantendo o hilário tom de sátira em cima da própria audiência adolescente da MTV.
A rotina tão conhecida de Beavis e Butt-head é subitamente quebrada quando os dois se dão conta de que sua TV foi roubada. Desesperados por um novo aparelho, eles saem a esmo pelo bairro e acabam entrando no caminho do bandido Muddy Grimes (voz de Bruce Willis), que os confunde com dois jovens matadores e os envia numa missão maluca para matar ou "dar um jeito" em sua esposa Dallas (voz de Demi Moore). Deve-se ter em mente que, na língua inglesa e neste contexto, o verbo do tem, além destes dois significados, também aquele que é mais simplesmente conhecido como fuck. Alucinados com a oportunidade de transar e ainda por cima ganhar 10 mil dólares para comprar uma nova TV, a dupla faz de tudo para chegar até a moça de peitos grandes, envolvendo-se numa tramóia maluca que os transforma nos meliantes mais procurados de todo o país.
Ao contrário de tentar algo novo e correr o risco de desfigurar a aura de imbecilidade que cerca os dois personagens, Mike Judge decidiu ser fiel à sua própria criação e concebeu um dos melhores episódios da dupla, que coincidentemente tem uma duração de quase uma hora e meia. Para não dizer que não há de fato nenhuma diferença, a mesma animação de traços simples é mesclada a duas ou três seqüências musicais, dentre as quais figura um delírio onírico-diabólico elaborado por Rob Zombie, bem ao estilo das vinhetas mais malucas veiculadas na MTV. Para a alegria dos fãs mais hardcore, as tiradas especiais de cada um estão todas lá, desde a indefectível "Hey, baby, come to Butt-head" até as estripulias de Cornolho, a histérica segunda personalidade de Beavis, que aflora quando este ingere açúcar demais. Além da presença obrigatória dos coadjuvantes habituais, há um brinde que aparece sob a forma de um vislumbre dos pais (também retardados) da dupla, mais ou menos como uma visão surreal de seu futuro.
Fica quase impossível não associar o escracho de Beavis e Butt-head com o trabalho dos irmãos Farrelly em Débi & Lóide. Pode ser coincidência, mas a epopéia da imbecilidade liderada por Jim Carrey pode muito bem ter forçado os executivos da Paramount a desistir da idéia de realizar uma versão de Beavis & Butt-head de carne e osso, uma vez que os Farrelly já haviam praticamente feito isso dois anos antes. Ainda bem, pois os dois moleques que vivem rindo à toa dentro de sua bolha de alienação televisiva ganharam um longa à sua altura, engraçadíssimo e cheio de referências a outros sucessos da cultura pop e cinematográfica, como As Panteras, King Kong, Godzilla e até mesmo Lawrence da Arábia. As vozes dos então ainda casados Bruce Willis e Demi Moore têm participação decisiva na trama, que não poupa nem mesmo o então presidente Bill Clinton e sua filha, Chelsea!
Infelizmente, os extras do DVD se resumem a apenas dois trailers da produção.